sexta-feira, 17 de maio de 2013

Capítulo 27: "Despedida?!"



(Rita)

Entrei para a creche e cumprimentei algumas das minhas colegas que encontrei pelo caminho e perguntei também pelo meu filho. Pelo caminho trocamos ainda dois dedos de conversa:

-Então amiga porque esse sorriso enorme? – Perguntou a Inês.

-Porque sou uma mulher completa. Sinto-me bem a sorrir e sou feliz.

-Amiga detesto estragar-te o dia mas já falaste com o senhor Tomás hoje?

-Não. Vou agora ter uma reunião com ele, porque me deu o dia de hoje e de amanhã.

-Precisas mesmo de usar e abusar destes dois dias. Mas vai lá para a reunião que espero que corra bem depois do que vais ouvir. Eu vou tomar conta do teu piolho amiga, boa sorte. – Deu-me um beijo e eu caminhei até á sala de reuniões, intrigada. A Inês não era uma rapariga negativa, antes pelo contrário. Era bastante positiva e sorria muito. E pelas suas palavras a notícia que iria receber era má, muito má. E depois daquelas palavras intimidantes, a felicidade que corria em mim quase que desapareceu. Depois de começar a relação com o André, nada nos poderia destruir. Estávamos mais fortes e unidos que nunca, qual era a melhor maneira de dizer que namoro com o meu melhor amigo?
Segui a Inês e espreitei pela porta onde observei o meu filho, muito alegre e feliz. Não tive tempo de lhe dar um beijinho apenas de o observar e de ir até á reunião, para a qual já estava atrasada. Entrei para a sala onde já estava o senhor Tomás e cumprimentei-o com um “passou-bem”.

-Então como estás Rita? Pareces muito feliz.

-Estou bem e como está o senhor? Sim, posso dizer que neste momento estou nas nuvens.

-Então desculpa-me mas vou chamar-te á Terra por motivos menos bons.

-Acredite que neste momento são poucas as coisas que me deixam normal novamente. Mas desculpe lá incomodá-lo com isto. E mais uma vez obrigada pela folga.

-Se eu te dei os dias é porque mereces. Desculpa ser neste dia que te dou a notícia mas tem de ser minha Ritinha.

-Diga então senhor Tomás. – O assunto já me estava a preocupar demasiado. E o meu coração já apertava de tanta ansiedade e medo.

-Vou fechar a creche. – Senti literalmente cair um balde de água fria sobre mim. – Já não há lucros, e a despesa só aumenta. Consegui pagar este mês e com algum dinheiro que tinha de parte e de venda deste espaço consigo pagar-vos este mês e o subsídio de Natal. Mas já não aguento o próximo mês.

-Isso quer dizer… Que estou desempregada? – Disse boquiaberta. Não me preocupava por meu bem, mas pelo meu filho. Poderia faltar-me tudo mas não poderia faltar ao David. Não, ele era meu filho, nada lhe poderia faltar. Para este mês conseguia dar-lhe tudo mas e para o próximo? Não queria depender da minha família, porque os meus pais têm mais filhos e além do mais tenho sobrinhos, mais pequenos que o Simão. Sempre dependi apenas de mim para criar o meu filho, nunca precisei de ninguém. E agora não tinha como o criar, não tinha. Nem que desse a minha vida nada lhe poderia faltar, ele era a minha essência e não tinha culpa de nada. Não queria depender do André, o filho era meu, a vida era minha. E não queria que ele pagasse por uma responsabilidade que nem a tinha, era meu namorado e melhor amigo, não tinha de me sustentar e não viveria bem sabendo isso.

-Lamento informar-te mas é isso mesmo que ouviste. Não dá mais, Rita. Eu sei que és mãe solteira mas com certeza existe várias pessoas que te podem ajudar de certeza. Além do mais és jovem, és boa pessoa, consegues facilmente arranjar um outro emprego melhor.

-E até lá? Vivo do ar? O que dou de comer ao meu filho? O que lhe visto? Como vive? Sou jovem pois sou, mas esqueceu-se que só tenho o 11ºano feito, e nem sou de cá. Não tenho com quem contar em Lisboa.

-Se for preciso podes contar comigo. Estarei sempre a apoiar-te. E pensa positivo, tu não vens trabalhar mais, porque fecho portas na sexta e consegues viver bem o resto do mês. Ainda tens tempo até Janeiro de arranjar um emprego. 

-Obrigada pela sua preocupação mas neste momento preciso mesmo é de apanhar ar. Logo venho buscar o meu filho.

-Logo á tarde quando vieres buscar o menino falamos melhor que agora estas de cabeça quente.

-Obrigada. Com licença. – Levantei-me e despedi-me do senhor Tomás. Não sabia a quem recorrer. Por um lado queria estar com o homem da minha vida, o meu filho, era ele que me fazia sorrir quando não queria, era ele que me fazia viver, mas não poderia estar com ele, sentir-me-ia falhar. Não podia estar com a minha prima porque estava a trabalhar, e não queria incomodá-la para também não correr o risco de ser despedida. E o meu namorado, o meu melhor amigo, o “meu” André “Gomas” estava a treinar, mas precisava tanto de desabafar com ele, precisava de chorar no seu ombro, precisava de um beijo, de um abraço ou de algo seu. Só a sua energia transmitia-me tudo aquilo que queria. Eu gostava dele cada vez mais e não precisava da minha maturidade aumentar ainda mais para o amar, porque o mesmo já acontecia. Por isso decidi ligar-lhe e mandar mensagens até ter a sua caixa de entrada, no mínimo, cheia.
Agarrei no carro e fui até perto do Caixa Futebol Campus, num passeio muito próximo do rio. Precisava daquele ar marítimo para me aconchegar, para me sentir melhor. E por um lado sentia-me mais próxima do André. Sentei-me num banco, coloquei música nos fones e comecei a ouvir música. Porque não tinha o direito de ser feliz? Porque é que depois de viver um dos momentos mais altos ao lado da minha vida, o início do namoro com o André, tinha de levar uma má notícia destas? Será que não tinha o direito de ser feliz? Chorei, chorei e chorei ainda mais. Sentia-me sozinha no mundo. Precisava de contar com alguém, precisava do apoio de alguém. E quando já estava muito próximo da hora de almoço, eram 12h30, quase que recebi a melhor notícia do dia. Bastou ouvir o toque do meu telemóvel e ver que era o “meu” André, para o dia de repente mudar de cor.

-Princesa deixaste-me preocupado. Queres bater o número de chamadas e mensagens da minha mãe? Estás quase lá! – Disse sorrindo enquanto eu controlava o choro.

-André… - Disse aos soluços. – Vem ter comigo. – Supliquei.

-Ritinha estás-me a deixar preocupado! Estás com quem, onde e o que se passou? – Disse preocupado.

 -Estou no passeio, junto ao rio, perto do Caixa. Sinto-me tão sozinha, André. Eu não mereço isto. Não. – Chorei.

-Dentro de 5 minutos estou ao pé de ti. Não saias do mesmo sítio. E tem sempre o telemóvel ao pé de ti.
Esperei, esperei pelo André. Parecia que o relógio não andava e eu precisava tanto dele. Até que enquanto chorava e olhava para o mar, senti o André pegar em mim e sentar-se no banco. Pousou-me no seu colo e eu juntei a minha cabeça ao seu pescoço e comecei a chorar. E ele com a sua voz grossa mas baixa, que senti bem de perto perguntou:

-Amor sabes que eu detesto ver-te assim e fico ainda mais aflito quando não sei o que fazer, quando não sei o que se passa. Mas agora acalma-te e explica-me o que se passou.

-Coração, sabes que detesto ver-te assim. – Limpou as minhas lágrimas e continuou. – E não vale a pena chorares. Tudo tem uma solução e foste tu que me ensinaste isso. – Sorri. – Agora conta-me o que se passou. Sabes que estarei sempre a teu lado.

-Obrigada. – Disse dando-lhe um beijo na bochecha. – Neste momento preciso de ti mais do que nunca!

-De nada. Estarei aqui em todas as alturas da nossa vida. De hoje para sempre!

-Fui despedida. A creche onde trabalho vai fechar a partir de segunda. Por enquanto tenho dinheiro para cuidar do meu filho mas e depois? Quando ele se acabar o que faço á minha vida?
-Eu posso cuidar de vocês enquanto não conseguires um emprego.
-Eu não preciso de ninguém para cuidar do meu filho! – Levantei-me bruscamente e limpei as minhas lágrimas que estavam derramadas sobre as minhas bochechas. Limpei a cara á manga da camisola, apesar de ser mãe com apenas 16 anos (meses antes de fazer 17), continuava a ter traços de adolescente meio menina/ meio mulher. – Eu lutei para ter a minha liberdade, para ser a melhor mãe e dar a melhor educação ao meu filho e não é agora nem nunca que isso vai mudar. Nem que me ande a vender nas esquinas faltará algo ao meu filho! – Disse indignada.

-Não é isso que está em causa! – Disse levantando-se e olhando-me olhos nos olhos. – Tu és uma excelente mãe, não ponho isso em causa. Mas eu enquanto teu amigo tenho e devo ajudar-te. Não vais ficar sem liberdade só porque te ajudo financeiramente, é só uma questão de tempo até arranjares um emprego. Eu só quero o teu bem e do teu filho! – Puxou-me contra o seu corpo e abraçou-me. As suas mãos ficaram pousadas sobre as minhas costas e as minhas foram para o seu peito. Ouvia-o respirar e o seu coração batia fortemente e fechei os olhos. Não queria voltar a chatear-me com ele de forma alguma. – Se o Dádá aqui tivesse, poderia dizer orgulhosamente que segurava o meu mundo com os meus braços! – Levantei a cabeça de forma a olhá-lo olhos nos olhos e brilhavam orgulhosamente. Beijei-o com desejo e saudade. O beijo só terminou porque nos escasseava o ar. Mas continuamos abraçados e eu sussurrei:

-Obrigada por seres o melhor amigo, namorado e companheiro de sempre! – Disse enquanto cruzávamos os dedos. – E por aceitares tão bem o David, não tinhas essa responsabilidade. – Estava com a cabeça encostada ao seu peito. E ele afastou o seu corpo de mim e apertou-me as bochechas o queixo enquanto cruzávamos o nosso olhar.

-Princesa da minha vida! – Sorri. – Eu não deixo de ser o André, o teu melhor amigo, o teu companheiro de infância, eu sou o mesmo. Mas nasceu outro sentimento em nós e acumulamos á amizade de antes, agora somos namorados e sentimos este amor que nos une mais que das outras vezes. Eu adoro-te, e adoro o David, não só porque é teu filho mas por tudo, ele é um bebé maravilhoso, educaste-o excelentemente. Quando comecei a namorar contigo, aceitei tudo o que vinha contigo, aceitei ser um padrasto para o David e adorá-lo tanto ou mais do que adoro a ti. Apesar de não o dizer, eu senti e assumi a mim mesmo. E hoje e para sempre, quero estar presente na tua vida, enquanto namorado e melhor amigo, quero que sejas a minha mulher e mãe dos meus filhos, a mãe do “meu” David, mas sei que vou fazer tudo pelo David, porque não sou o seu pai, e sei disso, mas amo-o como tal! E hoje, sinto que vocês são a minha essência.  

(Passado alguns dias)

Apesar de estar desempregada ainda não consegui descansar a cabeça, ainda não consegui ter sossego. Bati a todas as portas, perguntei a todas as pessoas, corri mundos e fundos para conseguir um emprego. Mas nada… Não consegui. É desesperante lutar e não conseguir, é frustrante e deprimente não conseguir emprego, não era para meu bem, não era para meu benefício, era para cuidar do meu filho. Aceitei a ajuda do André e da minha prima Ana, pelo menos até encontrar emprego. E para me distrair e encontrar a minha felicidade, decidi ir passar o Natal para a minha terra natal. Eu, o meu filho David, o meu namorado, André, a minha prima Ana e o (amigo colorido dela/futuro namorado) Rodrigo, ou o Rodri, como carinhosamente o tratávamos.
Falei com os meus pais, o meu irmão Miguel, a minha cunhada Maria e o meu sobrinho Miguel decidiram passar a consoada em casa dos meus pais, o meu irmão Gonçalo, a minha cunhada Joana e os meus sobrinhos Dinis e Beatriz (que ainda é uma recém-nascida) foram passar esta data especial em casa dos pais dela, até porque a bebé é muito pequena, tem alguns dias de vida, mas irão jantar a casa dos meus pais no dia de Natal, assim vejo a minha princesa. Mas também mato saudades do meu afilhado Miguel, e do meu sobrinho Dinis. O Miguel tem a mesma idade do David, e são muito cúmplices quando estão juntos. É dia 23 de Dezembro, e a minha prima, o Rodrigo e o André trabalham de manhã e eu fui ter com eles, perto da hora de almoço, comemos qualquer coisa rápida que preparei e fizemo-nos a caminho. Eu, o Gomas e o David fizemos a viagem no carro do meu namorado, a minha prima e o Rodrigo foram no carro dele. Depois de arrumarmos as malas, começamos a nossa viagem. O David adormeceu pouco depois de começarmos a viagem e eu e o André começamos a falar:

-Paixão. – Olhei-o. – Tu prometeste que nestes dias não te preocupavas com o emprego.

-Como é que queres que não me preocupe com a minha vida? Eu não consigo deixar de me preocupar com a vida do meu filho.

-E com a tua vida. Tu também importas, não vais passar fome nem dificuldades, eu não o permitirei.

-Eu sei que tenho com quem contar. Mas é impossível não pensar, entendes?
-Tu prometeste Rita. – Disse pousando a mão sobre a minha perna e ainda me fazia tremer de cima a baixo. O toque até o mais simples e ingénuo dele, me fazia tremer. Era a saudade que ainda não tinha morto dele.

-Eu sei André Gomas. – Disse enquanto sorriamos os dois. – Não quero que o David sinta que algo não está bem.

-Mas tens um filho muito inteligente, ele mais cedo ou mais tarde, o Dádá vai entender.

-Por enquanto vou aproveitar estas férias, junto da minha família, do meu filho David e do meu namorado. E vou tentar cumprir a nossa promessa.

-Não vais tentar, vais conseguir cumprir a tua promessa. – Olhou para mim num instante, cruzamos os nossos olhares. – Se amas o teu filho promete!

-E se prometer pelo que te adoro? – Perguntei. – Ainda não quero dizer que te amo, ainda é cedo. Mas já sabes que o sentimento é muito forte.

-Eu entendo e sinto o mesmo… Tu és a minha namorada e a minha melhor amiga. E isso é uma mistura radical de sentimentos. E hoje, eu orgulho-me de dizer que és minha namorada, mas também és a minha melhor amiga. E prometo pelos homens mais importantes da minha vida, neste momento, tu e o meu filho, que vou cumprir a minha promessa.

-Estive a pensar André… E vamos dizer aos nossos pais que somos mais que amigos?

-Queres que os nossos pais saibam que somos namorados?

-Não sei. Por um lado eles conhecem-nos, vão desconfiar de alguma coisa, mas por outro lado talvez seja cedo.

-Então agimos como se nada fosse, como se fossemos só amigos. Se perguntarem se nós somos namorados dizemos a verdade que te parece? – Perguntou.

-Bem. Mas olha achas que os teus pais levam a peito se dormirmos juntos? – Perguntei curiosa.

-És mesmo tonta! – Disse enquanto sorria e eu abri a boca, fingindo-me surpreendida. Tapei-a com a mão. – Quando eramos mais novos, isso não acontecia? E alguma vez reclamaram?

-Pois, tens razão. Nem me tinha lembrado disso. E na altura estávamos mais, digamos, aptos, para acontecer alguma coisa… - Disse eu. Realmente nunca tínhamos tido namorado ao mesmo tempo. E como eramos a pessoa do sexo oposto, em quem mais confiávamos, porque não entregar um momento especial com alguém tão próximo?

-Isso não é bem assim. Agora é que é mais provável. Sim, porque se soubessem que eramos namorados, o mais provável era ir cada um para sua cama, isto para não haver um aumento na natalidade deste país. – Disse bem-disposta.

-Não é nada que não me tenha passado pela cabeça. – As suas palavras deliciavam-me, mas as suas atitudes deixavam-me ainda mais apaixonada. – Mas ainda estou a aprender com a experiência de ajudar-te a educar o David, e quero namorar muito contigo antes de casar. E depois, só depois de tudo isto, sermos nós pais. 

-Da nossa menina certo? – Ele acenou positivamente com a cabeça.

-Mas eu não sou pessoa de faltar ao respeito aos teus pais, por isso tira daí as ideias que para aí tens… Não há nada disso para ninguém.

-Confessa lá aqui entre nós os dois que não gostaste daquela nossa primeira noite.

-André! – Disse abismada, não conhecia aquele lado atrevido dele.

-Rita! – Disse sorrindo. – Confessa aqui só a mim pequenina.

-Confesso! Eu não gostei, eu adorei! Conheces-me bem e soubeste o que querias, mas aposto que confesses fazer melhor. – Disse provocando-o.

-Queres parar para uma rapidinha? – Olhei-o surpreendida.

-André! – Disse exaltada. – Está-te a dar ou já te deu?

-Estava a brincar contigo tonta! – Corei. – Eu sou muito responsável! Estava só a testar a tua reação! E foi cómica! Havias de ter visto! – Começou a rir-se.

-Tens uma piada enorme André Filipe Tavares Gomes! – Disse ficando de “trombinhas”.
A viagem correu tranquilamente até chegarmos a Grijó. Primeiro fomos até minha casa, ver os meus irmãos, os meus cunhados e os meus sobrinhos, e explicamos que a véspera de Natal era passada em casa do André, e o dia de Natal, junto a eles. Consegui matar algumas saudades que tinha deles, e conheci a minha sobrinha Beatriz, (esta pequena) que (já era) sobrinha, e não por afinidade do André. E o ambiente posso confessar que azedou, a Ana disse que o Rodrigo era apenas um amigo e ele ficou magoado, mas era verdade. Ele esperava mais, mas eu entendia bem a sua atitude, afinal há bem pouco tempo eu tinha feito o mesmo. O David ficou logo agarrado ao meu sobrinho e afilhado Miguel, com 3 anos e ficou decidido que iria dormir ao pé dele. E os meus pais ajudaram, eu só autorizei porque estava na casa ao lado, mas admito que me soube bem, saber que podia aproveitar a noite ao lado do André, sozinhos, num quarto sossegado. Mas por outro lado… Estava debaixo do mesmo teto que os pais deles, ou seja, os meus sogros. Não iria faltar-lhes ao respeito, não desta forma. Mas por um lado se o André fizesse demasiada pressão sobre mim, bastava um beijo mais ousado, um toque mais sexy, bastava abrir-lhe os olhos (ou deixá-los semiabertos) para eu me deslumbrar com eles. Era demasiado atraente para eu lhe resistir, e eu queria sentir-me ainda mais dele.
Pedimos ao David para não dizer aos meus pais, nem aos do André que namorávamos, foi segredo absoluto. O menino era muito inteligente e perguntou o porquê da Ana não ter dito aos meus pais que namorava com o Rodrigo, na cabeça dele é difícil memorizar que eles deem beijos na boca mas não sejam namorados, para o pequeno, eram sinónimos. E eu fiquei sem saber o que lhe dizer, agora o André, teve uma resposta para lhe dizer. Justificou-se dizendo que a minha mãe não gostava de namoros e por isso não lhe podíamos dizer nada. Tivemos sorte que o menino não perguntou nada mais, senão duvido que tivéssemos imaginação para tal. Fui juntamente com o André, até casa dele para arrumarmos as prendas e as nossas roupas, enquanto a Ana e o Rodrigo faziam o mesmo em casa dos meus pais e estes tomavam conta do meu pequeno filho. Aproveitamos este tempo para arrumar as prendas debaixo da árvore de Natal, que para dizer a verdade era enorme e cheia de prendas, principalmente para o David. Desde o nascimento dele que o Natal tinha um sabor especial, deixou de ter o brilho próprio das prendas, típicas de uma adolescente, para passar a ser inteiramente virada para o meu filho. Ele ainda não sentia o espírito natalício, ainda não sabia a história do nascimento de Jesus, para ele, era a época em que o Pai Natal aparecia e trazia prendas para os meninos que se portassem bem. E tinha um brilho especial, sentir que o meu filho era feliz por sentir todo aquele espírito natalício, toda aquela magia. Mas quando ele crescesse mais contar-lhe-ia toda a história do Menino Jesus, porque creio em Deus, o pai também acredita e queria que o menino tivesse a sua religião. Tanto é que no presente, no futuro ano que vai entrar, pretendo batizar o meu filho e já tenho decidido os padrinhos e foi com esse pensamento que deixei o André a arrumar as prendas debaixo da árvore e fui falar com o Rodrigo:

-Rodrigo preciso de falar contigo. – Disse entrando pelo quarto onde ele ia dormir, longe da “sua” Ana.

-Que é que cê quer? – Perguntou com um tom agressivo.

-Escusas de falar assim… Não te fiz mal nenhum e não tenho culpa do que a Ana diz ou faz. Mas se quiseres desabafar estou toda de ouvidos.

-Não importa, cê não irá entender. Mas quer falar comigo, diga.

-Achas que não iria entender? Esqueceste-te que até há uns dias, estava na mesma situação que tu, mas com o meu melhor amigo e tudo se resolveu.

-Com a sua prima o nó não ata nem desata, parece que não gosta de mim e se gosta engana bem.

-Tens que lhe dar tempo. Ou esqueceste-te que eu e o André também estamos juntos mas ninguém das nossas famílias sabe. Não é uma questão de gostar ou não, tem a ver com a situação e com a nossa vida. Mas falando de coisas animadas que bem precisas…

-E sobre o David?

-Sim. Mas na verdade nunca falei contigo, sobre isso, mas no dia em que o David fizer 3 anos eu quero batizá-lo e já escolhi os padrinhos. E aviso já que vai ser simples e muito discreto, mas tu estás convidado.

-Muito obrigada.

-Não precisas de agradecer. Vem do coração. Mas eu queria pedir-te um favor senão te importares. A madrinha do David é a minha prima, e ela sabe. Agora na parte do padrinho, é que eu precisava de um favor teu.

-O padrinho do menino é o Gomas né? – Perguntou.

-Sim… A Ana disse-te?

-Não, mas não é difícil adivinhar. Mas que favor cê precisa?

-Bem… Preciso que faças crer o André que és tu o padrinho, pelo menos até ao do batismo. E eu também lhe vou dizer. Não te importas?

-Não, senhora.

-Estamos combinados?

-Yep. – Acenou positivamente com a cabeça. Demos um abraço e no momento em que o fizemos entrou o André pelo quarto e disse:

-Se eu fosse ciumento começava já a reclamar. – Disse enquanto nos separávamos e entrava também o meu irmão pelo quarto.

-Ciúmes? Não me digas que… - Fiquei parva a olhar para o Miguel. Olhei para o André que também ficou surpreendido, tínhamos sido literalmente apanhados a constatar que eramos namorados. E o André disse:

-Pois… - Disse fugindo ao olhar persistente do meu irmão.

-É verdade Miguel. Eu e o André namoramos. – Disse aproximando-me do meu namorado e cruzando as mãos. – Mas não quero que mais ninguém saiba, aliás tu nem era suposto saberes.

-Muitos parabéns! – Disse abraçando os dois. – Sê bem-vindo á família Mendonça! Agora espero que tomes bem conta da minha maninha e do meu sobrinho!

-Vou fazer todos os possíveis para os fazer feliz! Muito obrigada pelo apoio! – Disse dando um “passou-bem” ao meu irmão.

-Agora só um beijinho para eu ver! – Pediu o meu irmão sorrindo.

-Agora parecias o David e o Miguel a falar! – Disse o André sorrindo e brincando com o cunhado.

-Cala-te e beija-me! – Disse olhando para o Gomas. Ele agarrou-me e deu-me um beijo curto, apenas para satisfazer a curiosidade do meu irmão.
Depois de partilhar o segredo com o meu irmão e dele prometer segredo absoluto, foi a vez de irmos jantar. Ainda tive tempo de ajudar a (minha sogra), a mãe do André, a acabar de cozinhar o jantar, com ajuda da minha prima enquanto os homens (o pai do André, o Rodrigo, o Gomas e o David) brincavam e punham a mesa. Na realidade, o Dádá fazia um verdadeiro interrogatório ao André sobre as prendas e o que ia receber e ele respondia com toda a paciência do mundo. E eu que observava, em silêncio, apenas me ria e perguntava qual seria o limite da paciência dele. É que era preciso ter muita calma, muita paciência e imaginação para responder a todas as perguntas. O pequeno até perguntou se podia pedir um primo (filho da Ana e do Rodrigo) e uma mana, filha minha e do Gomas. Mas fez tudo isto em silêncio, para mais ninguém ouvir. E ele apenas disse:

-Quanto ao primo, podes e deves ir pedir ao pai-Natal. Quanto á mana, podes pedir mas não sei se a tua mãe quer dar-te uma maninha.

-E se pedi po favol? – Disse com o seu ar inocente e eu sorri, o André gargalhou.
A mãe do André serviu o jantar e jantamos alegremente. Bacalhau á Gomes de Sá (curioso como isto aconteceu), para todos, exceto para mim, porque era alérgica a bacalhau, e para o David, que tal como eu, não gostava e era alérgico. Para nós o jantar era peixe cozido com batatas e cenoura. Detestava não cumprir a tradição que todas as famílias tinham, mas para bem da minha saúde e para não passar a noite no hospital prefiro não arriscar. Além do mais, o meu filho também é alérgico, por isso não causo tanto transtorno.
Acabamos o jantar e o menino começou a ficar ansioso demais, nem tivemos tempo para sobremesas. A sua curiosidade era contagiante e nós acabamos por ceder. A tradição na família do André era abrir as prendas no dia 25, e começar de manhã do mais velho para o mais novo. Mas foi impossível este ano cumprir-se a tradição. Quem começou a abrir as prendas foi o David.

-Queres começar com a prenda do Pai-Natal de quem?

-Do Gomas! – Disse animado e deu-lhe um abraço e um beijinho. Estávamos todos sentados á volta da árvore no chão e o André puxou a sua prenda para próximo do menino que com ajuda dele a desembrulhou.

-Obigada Gomas! – Disse dando-lhe um beijinho.

-E sabes o que tem escrito nas costas?

-Não shei! – Disse fazendo beicinho.

-Sabes estes números grandes que estão na parte de trás da camisola? São os mesmos que uso quando jogo. Mas como não sabia se querias o teu nome ou o meu, pedi para porem Gomas, como tu me chamas!

-Obigada! – Disse dando-lhe um beijinho e um abraço. – Posso expimenta mamã?

-No final pode ser meu amor?

-Sim. Poque que-lo ve as outas.

-Cê vai gosta da minha. – Disse o Rodrigo enquanto lhe dava o presente.

O menino ficou super alegre com aquela prenda. E quis voltar a experimentar a prenda, mas eu não autorizei queria que abrisse todas e só depois experimentar uma a uma. E ele abria as prendas com uma alegria contagiante, com uma felicidade constante e eu sentia-me bem.
A Ana deu-lhe:

Um kit sócio, que ele ao início não entendeu o que era, mas depois ficou muito feliz e alegre. Finalmente era sócio do Benfica.
A minha prima e o Rodrigo deram-lhe:




O menino não era muito adepto de receber roupas, mas gostou especialmente daquele.
Os avós paternos deram-lhe:


O menino tinha um com o qual brincava na creche mas por falta de dinheiro, nunca tive possibilidade de lho dar. E por isso mesmo, pedi aos avós paternos para lho darem.
O pai e a madrasta ofereceram-lhe:

E o menino ficou muito feliz, já tinha um carrinho, com o qual podia brincar e divertir-se.
Os meus pais ofereceram:

Que ele tanto ansiava, e por curiosidade tinha visto antes do jantar com o primo Miguel.
E por surpresa, os pais do André, e o irmão Simão, ofereceram uma prenda ao menino. 
Uma atitude que me surpreendeu. Pela atitude fantástica que tiveram:


O menino adorava o Ruca, e com aquele presente, prometia não voltar a deixar ninguém dormir nos próximos tempos.
E eu ofereci-lhe, algo simbólico, mas com as dificuldades que o novo ano trazia tive que conter as despesas:



Depois de abrir as prendas, adormeceu. Talvez do cansaço, ou porque matou a curiosidade. Mas adormeceu cansado e eu fui deixá-lo a casa dos meus pais, onde iria dormir e onde já dormia o Miguel. Voltei para casa e começamos por abrir:
A Ana recebeu:

Do André: 

Do David:

Minha:

E do "Rodri":

O André recebeu:

Da Ana:

Do David:


Minha:

E do "Rodri":

O Rodrigo recebeu:


Da Ana:


Do André:

Do David:

Minha:

E eu recebi:

Da Ana:

Do André:

Do David:

Do Rodrigo:

E no final da noite, apenas “entre (casais)” (sem os pais e irmãos do André puderem ver), a Ana surpreendeu-me com um “presente” muito especial:


E com uma proposta daquelas como podia recusar uma noite (mal) dormida ao André? Despedimo-nos e fomos cada um para o seu quarto e cama. O Rodrigo e a Ana foram para casa dos meus pais, eu fui para o quarto do André, o Simão para o quarto dele e os pais dos “Gomas” foram para o seu quarto. Os pais do André não estranharam o facto de eu e ele dormirmos juntos, afinal já na adolescência e em criança o fazíamos. E mesmo quando namorava com o Miguel, pai do David, muitas eram as vezes em que dormíamos lado a lado. Além do mais, eles confiavam em nós, não lhes passava pela cabeça que nós namorássemos e que pudéssemos fazer amor sobre o mesmo teto que eles, apenas com uma parede a separar-nos.
Mas assim que chegamos ao quarto e o André fechou a porta e eu tirava a camisola para vestir o pijama, ele agarra-me e acabamos por fazer amor e “dar uso” à prenda que a Ana nos tinha dado. Depois vestimos o pijama e despedimo-nos com um “adoro-te” e um beijo, como só nós dávamos. E adormecemos abraçados, como na noite do nosso reencontro...

Como correrá o dia de Natal?
Qual será o futuro deste casal e do traquinas David?     Como ficará o futuro do casal?