segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Capitulo 30 - «Eu não goto dele! Ewe fala mal»


(Ana)

O novo ano veio cheio de esperança para mim. Esperança em dias melhores, em coisas boas para a minha prima, em coisas muito boas para mim e para o Salvio. 
Chamo-lhe Salvio, no dia a dia. Chamo-lhe Toto, quando estou com receio de lhe perguntar algo. Chamo-lhe Eduardo, quando o assunto é mais sério ou nem por isso. Tem sido difícil conciliar tudo. O afastamento da Rita trouxe algo à minha vida que nem eu sei explicar. 
Sozinha, não conseguia tomar conta do David e, por isso, fomos viver temporariamente com o André. Quando não estava eu, estava ele e vice-versa. Poderia ter sido com o Salvio, mas o David não gosta lá muito dele...outro problema.
Pensei que, contando tudo ao menino, ele iria aceitar melhor o Salvio na minha/nossa vida. Mas não...nunca lhe dirigiu a palavra, resmunga comigo porque quer estar com o Rodrigo e, ultimamente, nem me fala. 
Há noites em que o André fica sozinho com o David para eu estar um pouco com o Salvio. Quando estamos juntos eu não quero pensar em mais nada. Só quero o mimo dele e dar-lhe o meu. Pode parecer egoísmo ..mas é mesmo necessário caso contrário dou em louca. Ele, sabendo de tudo o que se passa, deixa-me ficar apenas nos braços dele a descansar e trocando alguns carinhos. Estamos bem os dois juntos, sem pressão do exterior, com muita calma, até porque a questão de o David não gostar dele incomoda-me. 

Recordação:

Numa bonita manha de Janeiro, Ana começa mais um dia de trabalho. Sentia-se cansada. Tivera quase a noite toda acordada a pensar como iria apresentar Salvio a David. O menino perguntava-lhe por Rodrigo e Ana não sabia ao certo o que responder. 
Estava Ana a trabalhar na recepção do Caixa, quando entra o seu companheiro. Ainda não se apelidavam de namorados...não usavam rótulos por ser tudo muito recente.
- Buenos dias, preciosa - disse-lhe Salvio, ao chegar ao balcão.
- Buenos dias, mi hombre - ambos sabiam que não se podiam beijar naquele lugar. Não hoje, nem daqui a uma semana. Ambos queriam manter a relação dos dois longe dos olhares do local de trabalho. Alguns colegas sabiam. Rodrigo e Ezequiel, pelo menos.
Para se cumprimentarem, mexiam na mão um do outro e trocavam os tipicos olhares de bons-dias.
- Pareces cansada.
- Dormi muito pouco.
- Então?
- Estive a pensar...em conheceres o David. 
- Sabes que não é preciso pressa nenhuma. 
- Sim...mas ele só me pergunta pelo Rodrigo e tu é que és o homem na minha vida agora.
- Quando estiveres pronta e souberes o que fazer, terei todo o gosto em conhecer o teu pequeno.
- Depois do teu treino falamos melhor, sim?
- Claro. Bom trabalho.
- Bom treino, meu amor - Salvio beija-lhe a mão e dirige-se para os balneários, enquanto Ana fica a fazer o seu trabalho. 

Mais tarde naquele dia:
Ana decidira que era dia de apresentar Salvio a David. Iriam aproveitar o fim do dia para isso. André ia buscar David ao infantário e levava o menino para casa. Enquanto isso, Ana preparava um jantar, com Salvio, em casa de André para quando eles chegassem. 
Estava ansiosa, reciosa, mas ao mesmo tempo sabia que o tinha de fazer porque Salvio era demasiado importante para não o incorporar na sua vida inteira. Tudo estava feito: jantar terminado, mesa posta e ainda uma sobremesa deliciosa esperando David. Ana estava à janela, impaciente. 
- Nunca mais chegam... - Salvio aproximara-se dela, rodeando a cintura dela com os seus braços. Este gesto, que tantas vezes era feito, tranquilizava-a. Dava-lhe aquela sensação de protecção  que nunca quis ter, mas que adora sentir. 
- Tens de ter calma. Se o David não reagir bem, havemos de arranjar uma solução para isso.
- Queria que ele se desse bem contigo. Como se dá com o André. Sei que é diferente, porque o André está a ser quase pai dele, mas tu...
- Eu farei de tudo para que ele me aceite na vida dele, sendo a pessoa que está com a prima dele.
Ana vira-se para Salvio, queria encará-lo para ver o que lhe ia no rosto. Encontrou um sorriso que a tranquilizou. 
- Como é que estás tão calmo?
- Acredita que não estou. Sei o quão importante isto é para ti e tenho medo do que o menino pense, mas sei que vamos fazer algo para que ele nos aceite aos dois.
- Mas tens de estar preparado. Ele vai fazer imensas perguntas, pode mandar uma boca mais descuidada... - Ana falava tão rápido que Salvio só a conseguiu calar com um beijo. Ambos o prolongaram, mas foram interrompidos pelo barulho da porta a fechar. 
De imediato, Ana afastou-se e esperou a chegada do seu primo à sala, impaciente. 
- Pima! - o menino avançava na direcção de Ana e, ao olhar para Salvio, correu para as pernas da prima e manteve-se lá agarrado - quem é ewe?
- David, a prima tem uma coisa para te dizer. 
- Eu vou deixar-vos aos três sozinhos - informou André que, de imediato, saiu da sala. Ficaram apenas Ana, Salvio e David. Ana sentou-se com o primo no sofá, colocando-o no seu colo e pediu a Salvio que se senta-se ao lado dela.
- David, para o mês que vem fazes três aninhos e tu já percebes muita coisa dos crescidos, não é?
- Chim.
- Então percebes que a prima, como outra rapariga qualquer, pode mudar de namorado. 
- Ewe é teu namoado? O Godigo!? - o menino ia a sair do colo de Ana, mas ela impede que ele o faça. 
- David...eu sei que gostas muito do Rodrigo. Mas...nós já não somos namorados...nunca fomos a serio. 
- Poque?
- Porque ele gostava de outra menina e eu de outro menino, mas gostamos muito um do outro.
- Mas não podes gostar de tantos!
- E não gosto...o Rodrigo é meu amigo, eu gosto muito dele como meu amigo, como gosto do Gomas, percebes?
- Acho que chim. E dewe? Como é que gostas? - perspicaz como sempre, David aponta para Salvio.
- A prima gosta do Salvio como gostava do Roberto. 
- Mas ewe fez choar a pima. 
- Isso foi porque ele foi embora.
- E ewe não vai?
- Não...por agora não - Salvio responde, em espanhol. David olha para ele, que sorria. Parecia que se ia dar alguma coisa entre os dois, mas...revelou-se ser o contrário.
- Tu gostas mais dele do que de mim? 
- É um gostar diferente. Eu e o Salvio gostamos muito um do outro com o coração e eu gosto muito de ti com o meu coração porque és o meu pequenino.
- E ewe é o que?
- Ele está com a prima.
- Namoado?
- Quase.
- Eu não goto dele! Ewe fala mal - David sai do colo da prima - eu quewo que namoes com o Godigo - o pequeno sai da sala, deixando Ana sem outra reacção a não ser deixar escapar uma lágrima. 
- Ei...estamos assim porque?
- Salvio...ele é um menino com uma personalidade difícil  Vai ser difícil que ele mude. Já com o Roberto foi o mesmo. Acho que se apegou demasiado a mim e não me quer ver com muitos rapazes.
- Vais ver que ele acabará por ceder. 
- Estou para ver é como vai correr o jantar. 
- Temos de agir com tranquilidade.
- Temos de tentar...
Ficaram os dois algum tempo sozinhos, até que aparece André que tenta chamar David para se juntar a eles. O menino não o fez e, só quando foi a hora de jantar, é que se juntou à prima, a Salvio e a André. 
O jantar foi difícil  O menino quis ficar ao pé de André e não falava com Ana. Salvio ainda tentou meter conversa com ele, mas sem sucesso. 

RECORDAÇÃO OFF

Nem com explicações da parte do Rodrigo, ou da Rita, o David não aceitava o Salvio. 
A Rita...continuava em Grijó, há quase dois meses. Estamos em Fevereiro e ela desde o inicio do ano que lá está. Primeiro porque foi tratar da custódia do filho e depois porque...quis ficar lá a trabalhar. Não a entendi...o André sempre a quis ajudar, eu também a consigo ajudar bem...mas ela, nunca quer depender de ninguém. 
Estamos a dia 13, amanhã é dia dos namorados e eu com uma pergunta em mãos desde ontem. O Salvio pediu-me em namoro. Pediu-me que o começasse a chamar de namorado, que ele me começasse a chamar de namorada e que não andássemos tanto às escondidas. 
Não lhe respondi...acabei por lhe dizer que ia pensar e quando dei por mim estava a dormir. Hoje...acordei e ele não estava cá. Tinha ido para a Alemanha com o Benfica para o jogo de amanhã com o Bayer Leverkusen. O André também tinha ido...e a minha missão começava.
Eu quero responder ao Salvio. Quero dizer-lhe o que realmente sinto. Mas para isso, tenho de estar cara a cara com ele. Sai de casa dele e fui até à do André. Peguei na mala de viagem e coloquei lá alguma roupa minha. Voltei a sair de casa e fui até ao meu apartamento e da Rita, haviam umas caixas que ela tinha cá deixado que tinham de ir para Grijó. 
Eu ia a Grijó. Ia lá deixar o David, o resto das coisas da Rita e depois...rumava para a Alemanha.
Fui até ao infantário do David e expliquei à educadora a situação. Ela acedeu ao meu pedido de o deixar sair e quando o menino chegou ao pé de mim não me falou...como já tem sido hábito. 
- Vou levar-te à tua mãe - disse-lhe um pouco fria...tive pena, mas precisava que ele me respeitasse e que me falasse, pelo menos. 
- Tá bem - dei-lhe a mão e levei-o até ao carro. Coloquei-o na cadeirinha e fiz-me à estrada - Pima?
- Diz, David?
- Vais leva-me à mamã poque não gosto do Toto?
- Agora chamas-lhe Toto?
- É o que os meninos chamam-lhe...
- Mas se não gostas dele...
- Pima?
- Sim?
- Tu gotas memo dele?
- Gosto muito David. 
- E ewe gota de ti?
- Há mais tempo que a prima. 
- E ewe não te faz chora?
- Não. Só lágrimas de alegria. 
- E dá-te pendas? E felores?
- Sim...já me deu.
- Pima? - estávamos a ter a típica conversa. ele pergunta, eu respondo.
- Sim...
- Tu vais ficar com ele?
- Eu estou com ele Dadá. 
- Mas...vocês domem juntos?
- Às vezes...a prima quando não está em casa do André está em casa do Salvio. 
- E poque é que vamos para a mamã?
- Porque a mãe pediu-me para te levar e...porque a prima tem de ir a um sitio.
- Onde?
- É longe.
- Mas onde?
- A prima vai ter com o Toto. 
- Mas ewe joga no Fenfica. 
- Sim. 
- E tá longe como o Gomas e o Godigo. 
- Pois está.
- Tu vais ter com ewe tão longe?
- Vou. 
- Poque?
- Porque amanhã é um dia especial e a prima tem que falar com o Salvio.
- Ewe faz anos?
- Não.
- Então é o que o dia?
- É o dia dos namorados.
- Pima...e se ewe for emboa?
- David, a prima gosta mesmo do Salvio e se tu gostasses dele ias deixar a prima muito feliz.
- Mas ewe não sabe falar.
- Ele é de uma língua diferente. É da Argentina. Tu és de Portugal e ele da Argentina.
- Tu falas como ele?
- Sim.
- Eu não goto. Não pecebo nada. 
- Então e se prometeres uma coisa à prima?
- O que?
- Que vais pensar com muito carinho e falar com a mamã, e quando eu voltar passas um dia comigo e com ele, prometes?
- Pode ser... - fiquei um pouco mais aliviada, mas não totalmente. 

A viagem foi longa e, quando chegámos a Grijó, o David estava a acordar. 
A Rita retirou-o do carro e ele despertou logo no colo da mãe. Eu levei as caixas para dentro de casa e, enquanto o David lanchava com a minha tia, a mãe da Rita, falei com ela na sala. 
- Rita...o David precisa de ti. Acho que também precisas dele. E precisas de mudar de atitude depressa  O André está a dar em maluco, ele gosta mesmo de ti.
- Eu estou a fazer o que é melhor para o David. 
- Não digo que não, mas não desperdices um amor. 
- Como é que vão as coisas com o Salvio? - ela desviou a conversa...como sempre o fazia. Eu já nem insistia. Se ela queria pensar, que pense.
- Vou ter com ele. 
- Hã?
- Vou agora para Leverkusen. Ele saiu hoje de casa sem a minha resposta ao pedido de namoro. 
- E o que lhe vais dizer? 
- A verdade. Quando regressar falo contigo que agora tenho de ir apanhar o avião - despedi-me dos dois e rumei em direcção ao aeroporto Sá Carneiro, no Porto. 

Cheguei a Leverkusen eram 21h30. Sabia perfeitamente o hotel onde é que os jogadores estavam. Tinha passado pela recepção a marcação da estadia deles, contudo, não fui para esse hotel. Fiquei perto, mas não queria que o Salvio me visse, se bem que a minha vontade era correr para os braços dele, mas queria surpreende-lo amanha, no jogo. 

No dia seguinte:
Acordei já eram 10h. Despachei-me e fui dar uma volta pela cidade até à hora do jogo. Não tinha dito nada a ninguém, queria mesmo surpreender o Salvio. Não queria que ele sentisse que não lhe dou provas do que sinto por ele, porque eu amo-o. Hoje, tenho essa certeza absoluta. Amo o meu Salvio. Amo o meu Eduardo Antonio Salvio.
O Salvio não jogou de inicio, nem entrou no decorrer da primeira parte. Mas o André tinha saído lesionado. Só espero que não seja nada de grave e que traga algo de positivo...para a Rita. Pode ser que lhe abra os olhos. 
Estava no intervalo e tinham ficado alguns jogadores a aquecer, entre eles estava o Salvio. Eu estava na primeira fila, mas ele não me tinha visto. O Rodrigo, que também estava lá no meio, esse tinha reparado em mim. Chamei-o e, já que estava por detrás do banco de suplentes do Bayer, acho que ele deve ter inventado uma desculpa qualquer para vir ter comigo.
- Que cê tá aqui a fazer?
- Preciso de falar com o Salvio...
- E não esperou que fossemos para Lisboa?
- Não dá Rodri...o Salvio fez-me uma pergunta e veio sem resposta.
- Já tinha notado que o cara não tava bem. 
- Mas ele disse alguma coisa?
- Não...mas tá pra baixo. 
- Eu preciso mesmo de falar com ele.
- Vou chamar ele pra vir aqui...calma, vem comigo - comecei a caminhar ao lado do Rodrigo, eu na bancada e ele na relva, até que chegámos ao pé de um segurança e, com um inglês surpreendente, o Rodrigo falou - ela está comigo - o segurança abriu a portinha de segurança e o Rodrigo levou-me para o túnel de acesso aos balneários e ao relvado - agora vou dizer a ele pra vir aqui. 
- Obrigada Rodrigo! - dei-lhe um abraço e ele saiu a correr. 
Esperei...alguns segundos até que o Salvio chegou ao túnel, também a correr.
- Tu? Que é que fazes aqui?
- É o que se chama uma...surpresa. 
- É uma surpresa mesmo. Porque não disseste que vinhas?
- Decidi tudo ontem de manha, quando reparei que te tinhas vindo embora sem resposta.
- Acordei cedo e tu estavas a dormir...não te queria acordar.
- E acabas-te por vir sem a minha resposta - aproximei-me dele, rodeando a sua cintura com os meus braços.
- Tens noção do sitio onde estás?
- Tenho... - disse, roçando o meu nariz no dele - Estou em pleno túnel de acesso ao relvado do estádio do Bayer, com o rapaz mais perfeito e maravilhoso à minha frente, o rapaz que a partir hoje chamo de namorado para sempre.
- O que é que acabaste de dizer? - ele sabia perfeitamente o que é que tinha dito, caso contrário não sorria daquela maneira.
- Eduardo, eu aceito ser a tua namorada. Estamos à dois meses juntos, sabemos coisas um do outro que basta um olhar para mudar tudo. Eu amo-te, meu Toto! - no mesmo instante em que acabei de falar, o Salvio beija-me, ali, sem qualquer problema, sem qualquer restrição. 
- Eu amo-te tanto, mulher da minha vida. Sabes perfeitamente que é a melhor coisa que me podias ter dado num dia como o de hoje.
- Daqui a um ano vais ter de te esforçar muito para celebrar este dia.
- Estás a imaginar eu e tu daqui a um ano?
- Imagino-me contigo para o resto da minha vida. A não ser que faças algo completamente estúpido e fora de série é que te deixo. 
- Eu amo-te tanto! 
- E eu a ti, meu amor - beijamo-nos mais uma vez. 
Era fácil, claro e pacifico falar com ele sobre o que sinto. As nossas conversas davam-me certezas, seguranças, tranquilidade e um à vontade gigante em estar com ele. O Salvio é o meu melhor confidente, o meu melhor amigo, o meu melhor apoio, a minha melhor metade. Sem dúvida nenhuma, tenho o homem da minha vida a meu lado. 
Antes que se juntasse ali muita gente, separamo-nos. O Salvio foi terminar o treino e eu voltei para a bancada. Até ao minuto 90 o meu coração não sossegou. Não sossegou enquanto adepta do Benfica, estar só 1-0 desde os 61 minutos não dá tranquilidade. Não sosseguei enquanto namorada. O Salvio entrou aos 58 minutos e cada vez que tocava na bola e fazia a magia dele deixava-me orgulhosa. Mas quando os alemães se aproximavam dele era um medo...mas tudo correu bem. O Salvio e toda a equipa aguentaram-se até ao fim e a eliminatória estava bem virada para o Benfica. Na Luz manda-mos nós e eles que se cuidem. 

Depois do jogo, o Benfica seguiu para Lisboa e eu fui com eles. O Salvio arranjou-me um buraquinho no avião e fui com ele.
Fiquei do seu lado...o que um jogador consegue fazer nos dias de hoje é impressionante, mas muito vantajoso para mim.
- O que é que fizeste para que eu viesse a teu lado?
- Era o Ezequiel que vinha aqui por isso...foi mais pacifico.
- Vinhas com ele?
- Vou sempre. Quer seja em avião ou em autocarro. 
- Vocês dão-se bem...
- Damos.
- É bom saber. Assim o meu melhor amigo e o meu namorado podem falar mal de mim à vontade. 
- Falar mal de ti? Nunca, minha pequena - dito isto, ele beija-me e só se ouviu um coro atrás de nós. Eram o Cardozo e o Lima, que espalharam a palavra e num instante tínhamos o plantel todo a mandar bocas e a equipa técnica a rir.
Ele estava à vontade, já eu demorei algum tempo para levar tudo na brincadeira...não é todos os dias que a minha vida privada com o senhor Eduardo é analisada e comentada em pleno avião. Fizeram montes de perguntas, do género há quanto tempo é que estávamos juntos?
Quando pensei que as coisas não podiam piorar, chega Jorge Jesus junto de nós. E agora é que as coisas se tornam sérias...o mister é meu padrinho de baptismo. É quase como um tio, é amigo de longa data dos meus pais e, quando eu nasci, decidiram dar-me este padrinho...que hoje me deve ir chatear a cabeça com uma palestra, tal e qual como fez quando namorava com o Roberto, só que em casa. Ninguém sabia da nossa proximidade, apenas o presidente e alguns membros da estrutura do Benfica e equipa técnica: 
- Menina Ana, o seu interesse pelos meus jogadores continua, estou a ver.
- Mister...estar em contacto com eles todos os dias é o que dá.
- E a menina, por acaso, estava a pensar contar-me quando? Já que isto dura à dois meses...eu deveria ser informado. 
- Um dia destes...eu peço desculpa, mas não queríamos que as coisas se soubessem logo.
- O mister não tá falando sério, Ana. Não ligue pra ele! - disse o Lima...o problema é que ele estava mesmo a falar a sério.
- Rodrigo José, como é que sabes que não estou a falar a sério? - o plantel todo se riu...quando alguém tratava o Lima por Rodrigo José era sempre a mesma risada. 
- Mister, não precisa falar meu nome assim. Mas que cê quer da garota? Ela namora ele faz um tempão e ninguém tá notando. O Toto tá na mesma marcando gol.
- Vamos ver se nos entendemos...eu preciso de estar atento a esta rapariga. Se o pai dela me fez padrinho dela à 19 anos tenho de assumir as minhas responsabilidades - ai...bonito. Agora é que toda a gente fica a saber. 
No avião ouviu-se o comentar de todos, ou porque não tinham entendido o que o mister tinha dito ou porque não estavam à espera desta revelação.
- O mister é teu padrinho? - perguntou o Salvio.
- É...
- Por isso, senhor Eduardo, veja lá o que é que faz com a minha afilhada. E tu vê o que me fazes ao jogador porque não é para o andares a cansar todas as noites. 
- Padrinho...a serio!? 
- É muito sério. 
- Tirem-me deste filme... - escondi a cara no braço do Salvio, que se ria. Agora todos sabiam que eu sou afilhada do treinador...a ver como é que tudo corre. 

Chegámos a Lisboa eram 04h00 e, fui para casa do Salvio. Iriamos dormir. Juntos, na mesma cama, como namorados. Ainda não me tinha envolvido sexualmente com ele. Não havia essa necessidade, acho eu. Os momentos em que estávamos juntos eram tão intensos por si só que nunca pensei realmente nisso. 
Óbvio que há dias em que estamos mais relaxados e com mais vontade de tocar um no outro, mas nunca avançámos. Quero faze-lo, mas quando se der, quando for uma coisa natural, sem pressionar nada.

No dia seguinte:
Era dia de estar com o David. A Rita estava de volta e, para ela resolver as cenas dela, nada melhor que passar o dia com o Dadá. Não criei expectativas nenhumas para o dia, não o queria fazer, sabia que o pequnino era esperto e que percebe as coisas como ninguém. 

Fomos buscá-lo a casa e, quando sai com ele do prédio e nos dirigimos para junto do carro do Salvio...o bebé da prima revelou ser um homenzinho.  

Como irá correr o dia para os três?
Irá David aproximar-se de Salvio?