quinta-feira, 18 de julho de 2013

Capitulo 28 - "Sou um extraterrestre..."


Ana:

Dizer que está tudo bem é mentir. 
Dizer que estou feliz seria mentir ainda mais. 
Desde dia 23 de Dezembro que está a ser tudo muito complicado de gerir. É a Rita que continua sem trabalho, o David a precisar de mais atenção, não que custe, mas...sinto-me cansada. Amo o meu primo, o meu pequenino, mas conciliar tudo com a minha vida é difícil.
A minha vida...vai uma confusão dos diabos. É o trabalho no Benfica que tem vindo a aumentar todos os dias, ora estou na recepção, ora tenho de acompanhar o presidente, ou me chamam para receber uma visita de estudo ou para receber um jogador. Basicamente, faço um pouco de tudo. É certo que vi o meu salário melhorado, mas o cansaço...aumentou. 
De outro lado...é a minha vida fora do trabalho, e até dentro dele já que está toda misturada. É o Rodrigo. Apresentei-o à família como amigo, no Natal. Aos meus pais, aos meus tios, aos meus primos, a todos. Ele não aceitou muito bem, não entendo porque se era assim que ele queria. Não nos confrontámos com isso ainda, acho que não há coragem, nem minha, nem dele. Mas sei que o temos de fazer muito em breve. É impensável continuar assim durante muito mais tempo. Temos de falar sobre o que nos está a afastar. Se é o Roberto, ou a ex-namorada dele. Gosto imenso do Rodrigo, não sei se o amo, sei que gosto de estar com ele e que me faz rir, mas sei que tem sido estranho estar com ele.
Passou uma semana desde o Natal. Estamos a dia 29, véspera da passagem de ano. Decidimos ir para Málaga. Íamos eu, a Rita, o André e o Rodrigo. Estaríamos longe de tudo aqui em Lisboa e poderia ser que resolvesse o problema com o Rodrigo. O David iria estar com a família do lado do pai, já que era assim todos os anos.
Contudo, esta semana serviu para me surpreender com uma pessoa. 
Eduardo Antonio Salvio. Argentino. De 23 anos. 
Tem sido a pessoa que mais me ouve desabafar. Nem o Ezequiel me ouve tanto como ele. Todos os dias falo um bocadinho com ele, ou porque sou eu que preciso ou porque é ele que precisa. 
É uma pessoa extraordinária, fantástica mesmo. É...esquisito. Porque eu me sinto melhor com ele do que com o Rodrigo. É com o Salvio que me consigo abstrair das coisas e, às vezes, gargalhar com ele. Tem sempre uma coisa a dizer que me anime, ou que me faça sentir bem. Diz sempre alguma coisa no português dele que eu não entendo e que me faz desmanchar a rir. 
Era o último dia de trabalho esta semana. Amanhã de manhã íamos para Málaga e voltaríamos dia 1 de Janeiro. A ver se o novo ano me traz coisas melhores...
Estava descansada a fazer o meu trabalho na recepção, quando chega um grupinho de 4 belos jogadores à minha frente. O Garay, o André (priminho), o Salvio e o Rodrigo...admitamos, são belos! 
- Posso saber a que se deve esta visita de quatro belas pessoas?

- Não vai haver treino e pediram para avisar que a menina pode ter o dia de folga - falou o Garay.

- Muito me contam...mas é a sério? - com eles nunca se sabe.

- É a serio sim, Ana - respondeu o André.

- Sendo assim, tenham um bom dia que eu vou pirar-me daqui! - peguei na minha mala, dei um beijo na bochecha a cada um e fui até ao exterior do CFC.

- Ana!? - olhei para trás e vinha o Rodrigo a correr na minha direcção - cê...quer ir dar uma volta? - perguntou ele, chegando ao pé de mim.

- Rodrigo...eu vou aproveitar para ir ter com a Rita e estar com ela e com o David. Se queres falar...em Málaga, sim?

- Tudo bem. Nos vemos amanhã?

- Claro.

- Fica bem.

- Tu também - virei costas e continuei o meu caminho até ao parque de estacionamento. 
Quando lá cheguei tinha o "Toto" encostado ao meu carro. Ainda não sei bem como o tratar. Às vezes chamo-lhe Toto, outras é Salvio...e uma vez descaí-me com Eduardo. Ele pareceu ter gostado, mas é demasiado pessoal. Nunca ouvi ninguém chamá-lo Eduardo. 

- Parece que vou ter dificuldade a chegar ao meu destino - disse ao chegar perto dele.

- Porque dizes isso?

- Parei à porta por causa do Rodrigo, agora está aqui Vossa Excelência. 

- Se a Excelentíssima não quiser posso ir já embora.

- Sabes que não é isso...

- Ai não?

- Porra...acho que já falei coisas que não são supostas.

- Tens a certeza?

- Acho que precisamos de falar, Eduardo.

- Ai que ela me tratou pelo primeiro nome - ele fez uma cara de medo, mas desmanchou-se a rir - queres falar aqui?

- Não. Vamos dar uma volta.

- Aqui ou fora daqui?

- Fora daqui, ainda aparece aí o Rodrigo. 

- Eu estou pronto - ele tinha a malinha dele debaixo do braço e estava equipado com o fato treino.

- Então vamos. 

- No teu carro?

- Porque?

- Depois tens de voltar para cá, para vir buscar o meu.

- É na boa. 

- Vamos lá então - o Salvio desencostou-se do carro e foi para o lado do pendura. Eu abri o carro e entramos os dois no mesmo. 
Pensar num sitio para irmos falar...era difícil encontrar um. Se fossemos para um sitio publico ele iria ser reconhecido e não teríamos a calma que precisamos. Optei por irmos para o parque de estacionamento de uma praia. Tínhamos vista para o areal e o oceano, ficávamos no carro porque estava frio lá fora e falávamos à vontade.

- Que queres falar hoje? - as nossas conversas, geralmente, eram desabafos. Ou meus, ou deles - é o Rodrigo?

- Não...somos nós.

- Nós?

- Sim...tipo eu e tu. 

- Apanhei, mas o que é que nós tem?

- Nós não somos só amigos. Tu és uma pessoa fantástica, ajudas-me desde o primeiro minuto em que começamos a falas e fazes-me esquecer, às vezes, os problemas todos que estão sobre mim neste momento da minha vida.

- Acredita que...

- Não! Deixa-me falar tudo de uma vez, sim?

- À vontade - ele virou o seu tronco na minha direcção. E eu virei-me para ele. Não era tão confortável como se estivéssemos a falar num banco de jardim, mas era este momento que precisávamos.

- Tens sido mais que um amigo, eu falo contigo coisas que nem com a minha prima falo. Claro que se deve ao facto de ela também não estar bem, mas, mesmo que ela estivesse bem, aposto que era a ti que recorria  Tu tens sido...o meu protector  Acho que sempre admiti que nunca iria precisar de alguém, muito menos de um homem, que me protegesse, mas sabe tão bem...sabe mesmo - ele sorriu e os olhos dele pareciam brilhar com o que eu acabara de dizer - e é por esse sorriso lindo que eu todos os dias procuro. Quando sorris dessa maneira há qualquer coisa que mexe comigo. Isto é doentio...eu estou a tentar arranjar respostas para o que existe entre mim e o Rodrigo, mas só acabo por piorar tudo. Eu já não sei o que sinto por ele. E nem sei o que sinto por ti. Eu sei que não temos uma simples amizade mas, se estou errada, quero que mo digas agora - os segundos que se seguiram pareceram minutos. Acho que, desde que passo mais tempo com o Toto, nunca tinha ficado tão desesperada por uma resposta dele. Sem perder AQUELE sorriso, agarrou-me na mão. 

- Desde que cheguei ao Benfica, no inicio da época vindo do Atlético, que reparo em ti todos os dias. Estás todos os dias, às 8 da manhã, atrás daquele balcão a dizer-nos bom dia. Com um sorriso nos lábios, mesmo que às vezes os teus olhos não estejam de acordo - ele...repara em mim todos os dias? - esta nossa aproximação foi uma coisa que eu não previa nem nos meus melhores sonhos. Desde que cá cheguei que me chamas à atenção e eu nunca tinha tido coragem de falar contigo, nem tive...foste tu a primeira a falar comigo na véspera de dia 24. És uma mulher linda, és perfeita e falar contigo tem sido o descobrir de coisas que nunca pensei descobrir de ti. E sim, não temos uma simples amizade - com ele havia uma coisa muito fácil de fazer. Conseguia estar tranquila e falar calmamente com ele, mesmo que me deixasse completamente KO.

- Mas não sabemos o que é. Pelo menos eu não sei.

- Eu sei o que é para mim. Eu estou a ajudar-te a encontrares o teu caminho. Estou a tentar ajudar-te a que te decidas se queres mesmo estar com o Rodrigo. Eu gosto imenso de ti, a melhor coisa que me podia acontecer depois desta conversa era chamar-te de minha namorada, mas nunca, nem por um dia que fosse, tentei tomar proveito das nossas conversas para que acabasses tudo com o Rodrigo. 

- É essa tua maneira de me surpreenderes que me deixa estranha. Como? Como é que gostando de mim consegues falar e dar-me conselhos para uma relação com outra pessoa?

- Porque, acima de tudo, tens de ser feliz. Com o Rodrigo. Ou com quem queiras.

- Esse é o problema. Não saber o que quero - encostei-me ao banco do carro, de frente para o volante.

- Vais saber. Talvez nesta ida a Málaga. 

- Eu não te quero magoar...

- Nunca o irás fazer. Eu coloquei-me nesta posição. Podia ter simplesmente falado logo contigo. Aconteça o que acontecer, seremos sempre amigos.

- Ai de ti que não fossemos! - voltei a olhar para ele, que me deu uma festinha na bochecha.

- Tu és tão linda.

- Salvio...

- E não tens uma maneira de me tratar. Ora é Salvio, ora é Toto, ora é Eduardo. 

- Não sei como o fazer. É como vai do momento. 

- Pois fica sabendo que quando me chamas Eduardo...é muito bom.

- Mas é tão...pessoal.

- Se te chamo Ana, porque não me chamas Eduardo?

- Porque é estranho. Ninguém te chama assim. 

- Podes ser uma das únicas pessoas. 

- Teria de me habituar, mas hei-de arranjar uma maneira.

- Ficarei à espera do veredicto

- Tivemos uma boa conversa.

- Foi intensa.

- Agora, se calhar, é melhor ir andando. Vou ter com a Rita, ver se está mais animada e fazer a mala para ir amanha.

- Claro, não te esqueças que temos de ir ao Caixa.

- Sim. 
Liguei o carro e conduzi de volta ao CFC. Deixei o meu carro ao pé do do Salvio e saímos ambos do meu.

- Então agora só nos vemos dia 2... - comentou ele.

- É verdade.

- Com respostas, espero.

- Também eu. 

- Vou ter saudades tuas.

- E eu tuas - aproximei-me dele e abracei-o. Éramos quase da mesma altura o que, nestes abraços, era tão bom. A maneira como ele me agarrava, como o cheiro dele se entranhava nas minhas narinas...era bom - vá, vamos lá embora que senão ainda choras - disse para brincar com a situação.

- E chorava, qual é o mal? - ficámos os dois a olhar um para o outro sem dizer nada. 

- Não tem mal nenhum.

- Vá, vai lá e tem juízo.

- Sim paizinho! - dei-lhe um beijo na bochecha e esperei pelo meu que...saiu um pouco fora do sitio. Foi mesmo em cheio no cantinho da minha boca - calma...

- Desculpa.

- Mas foi bom - e pronto. Estou com ele e dá nisto - esquece. Vamos mas é embora. Besos! - meti-me dentro do carro e fui até casa. 
A Rita...estava mais animada, ao menos estava entusiasmada por se ir divertir um pouco. O David já estava com o pai e a família dele. 
Fiz a minha mala e deitei-me cedinho já que no outro dia nos tínhamos de levantar cedo. 

A viagem até Málaga, desculpem ser sincera, foi uma seca. A Rita ia com o André no avião e eu com o Rodrigo...que praticamente passou a viagem toda a dormir. Isto tinha de ter um ponto final e desta noite não passava. Pode ser dia 31 de Dezembro, ser dia de festa, mas eu tenho mesmo de falar com o Rodrigo sobre...tudo.
Aterrámos no aeroporto de Málaga às 11h30 e seguimos para a casa do Rodrigo, onde íamos ficar para não gastar tanto dinheiro.
Dividimo-nos: a Rita ficava com o André num quarto e eu com o Rodrigo noutro. Não deveríamos dormir em casa...íamos sair e aproveitar a passagem de ano. Passámos o dia todo a arrumar coisas e a descansar para aproveitarmos bem a noite. 
Eram 20h00 quando me comecei a arranjar e a ajudar a Rita. Depois de muito "discutirmos" a indumentária dela já que não queria vestir o vestido porque é mão...Rita, Rita, o que é bom é para ser visto!

Conjunto de Ana
Conjunto de Rita












                     








Fomos ter com os rapazes que...estavam bem arranjadinhos. 

Conjunto de Rodrigo
Conjunto de André
























Saímos os quatro de casa e, antes de irmos para o lugar da festa, fomos jantar. Eram cerca das 22h quando chegamos ao bar/discoteca/sitio acolhedor para passar o ano. Assim que entrámos o ambiente estava morno. Ficámos por ali a beber qualquer coisa até que o Rodrigo se dirigiu a mim.

- Cê ainda não falou quase nada comigo.

- Tens razão...

- Que acha de irmos até lá fora?

- Pode ser.

Avisámos a Rita e o André de que íamos até lá fora, onde estavam algumas pessoas a dançar. Era um ambiente de festa.

- Nós não estamos bem - começou ele. 

- Pois não...

- Eu pensava que amava você, juro por Deus que pensava. 

- Rodrigo...não precisas de dizer nada.

- Preciso. Eu preciso de pedir desculpa pra você. Eu tenho...mentido pra ti.

- Como assim?

- Eu me encontrei com a minha namorada...e a gente tá bem de novo. 

- O que?

- É essa a verdade. 

- E o que é que estás aqui a fazer comigo? Devias estar a passar o ano com ela.

- Cê...tá numa boa.

- Rodrigo...as coisas entre nós pareciam que iam dar em algo, mas se tu estás apaixonado por outra rapariga e eu por outro rapaz...

- Cê gosta de outro?

- Ainda não sei...mas...eu tenho de te dizer quem é, só no caso de dar em alguma coisa.

- Claro.

- É o Salvio.

- O...Salvio. Ele é bom cara. Fica bem com você.

- Ficamos bem os dois?

- Claro que ficamo, né? - ele puxou-me para ele e abraçou-me. Pela primeira vez, em semanas, o abraço dele sabia bem. Sabia a amizade. Era isso que nós teríamos. Uma bela amizade.

- Vou ligar pra ela, pode ser?

- Óbvio tonto! Já o devias ter feito.

- Cê fica bem. 

- Fico óptima - o Rodrigo deu-me um beijo na bochecha e afastou-se. E eu...fiquei ali. Mas não queria ir fazer de vela.Peguei no telemóvel e telefonei ao Salvio. Bastaram dois toques e ele atendeu.

"- Buenas noches!"

- Buenas noches! 

"- Como é que estás?"

- Melhor depois de ter falado com o Rodrigo...

"- Já falaram?"

- Falámos agora...ele ainda gosta da namorada e voltou para ela.

"- E tu estás bem...com isso?"

- Porque não haveria de estar...ah! Já sei...faltas aqui tu.

"- Acho que isso não será um problema."

- Como assim?

"- Parece que o destino quis que passássemos a passagem de ano juntos."

- Hã? - do outro lado a chamada desligou-se.

- Eu...bem...estou aqui - senti as mãos dele rodearem-me a cintura e a testa dele encostar-se à minha nuca.
Queria saborear o momento, mas haviam demasiadas perguntas na minha cabeça. 

- Porque é que estás aqui? - ficámos simplesmente abraçados.

- Eu era para ir passar a passagem de ano a Madrid com os meus pais, mas eles quiseram vir para Málaga e vim com uns amigos.

- E estás aqui...

- Se ainda tens dúvidas, basta olhares para mim - o dom que ele tem de me orientar...é divino!
Virei-me para ele...sorria-me, o que mexeu comigo...umas coisas estranhas na minha barriga causaram-me um arrepio.

- Eu tenho a certeza que...és especial - afirmei, segura de mim.

- E o que é que algo dessa natureza, vindo de ti, quer dizer?

- Que somos livres para tentar qualquer coisa entre nós.

- A serio?

- Sim.

- A serio, a serio?

- Sim! A serio, a serio! - acho que...gritei no meio da rua.

- Começamos o ano juntos?

- Sim - dei-lhe um beijinho na bochecha. Acho que daria para perceber que é preciso ter muita calma, percebermos o que queremos e só assim saber se pode ser algo entre nós - então e diz-me, queres entrar ou estavas só de passagem?

- Íamos entrar, os meus amigos já lá estão dentro.

- Então...entramos?

- Sim - dei-lhe o braço e entramos os dois.
Procurei a mesa onde estávamos e dirigimo-nos até ela, para avisar a minha prima que iria estar mais ausente.

- Mas sais com um e entras com outro!? - o André, sempre queridinho com a prima, mandou a boca da praxe e cumprimentou o Salvio.

- Sabes...não me contento só com um - o Salvio olhou para mim...assustado.

- Bem...já cá não está quem falou.

- Prima, vou dançar. E se não me encontrares antes, encontramo-nos aqui um bocadinho depois da meia noite, sim?

- Com certeza.

- Depois falamos, adeus - mandei-lhes beijinhos com os lábios e fui com o Salvio para a pista de dança. A música era calminha, pelo que os nossos corpos se aproximaram e moviam-se ao ritmo da mesma. 

- Tens jeitinho - disse.

- Também não estás nada mal...Ana?

- Sim?

- Não te contentas só com um?

- Não...vou contentar-me só contigo - falávamos ao ouvido um do outro, sem pensar no que nos rodeava.

- Olha que eu posso ser bastante complicado de aturar.

- Eu também, não te preocupes.

- Eu ainda nem acredito que estou aqui. Contigo...

- Mas estás e só sais de ao pé de mim quando te fartares. 

- Sabes que isso nunca irá acontecer.

- Eu se fosse a ti não tinha tantas certezas.

- E eu se fosse a ti...não duvidava do meu amor por ti - com esta é que eu não contava.

- O teu...hã?

- Eu amo-te - acho que ia ficar envergonhada mas, em vez disso, olhei-o nos olhos.

- Como é que sabes?

- Sinto-o - ele agarrou na minha mão e colocou-a junto ao seu coração - aqui.

- Será meio caminho para nós?

- Ou poderá apenas ser a tua certeza.

- Cada vez tenho mais a certeza que não és deste mundo.

- Sou um extraterrestre que te veio raptar porque precisamos de seres humanos no nosso mundo.

- És tão tonto.

- Não. Sou Toto.

- Estamos com umas piadas...

- Estamos felizes. 

- Pois estamos.

- E como diria a minha mãe: "maior felicidade que o facto de amar é um extra nas nossas vidas."

- Palavras sábias.

- Palavras de mãe.

Ficamos os dois a olhar um para o outro, continuando a dançar. 

- Salvio...

- Diz?

- Eu quero sentir.

- O que?

- O que tu sentes por mim.

- Só com o tempo o saberás.

- Mas...eu sei que sinto algo. Mas não sei bem.

- Tu andas confusa. É normal. Mas com o tempo saberemos se fomos feitos um para o outro.

- E...não me podes dar um empurrãozinho a ficar menos confusa?

- Como?

- Com...algo.

- O que é que é o teu algo? Não tenhas medo de pedir, ou vergonha de mim.

- Sabes que não tenho vergonha...nem medo. Ok. Talvez tenha medo porque posso não gostar...

- Do que?

- Do teu beijo.

- Era só isso?

- É...

- Com a sua licença - uma das mãos dele foi para o fundo das minhas costas e a outra para o meu pescoço. Foi avançando na minha direcção e puxando-me para ele. As nossas respirações misturaram-se, estavam em sintonia e completaram-se.
O Salvio colocou o meu cabelo atrás da orelha e tomou, de assalto, os meus lábios. Estávamos unidos, colados pelos lábios, saboreando o sabor do outro, sem qualquer pedido de licença. As nossas bocas encaixavam perfeitamente uma na outra, as nossas línguas ..agiram por nós e tornaram aquele beijo mais intenso, mais carregado de desejo. Mas ele soube parar...soube me deixar no ponto certo, com a cabeça a mil, mas bem presente naquele lugar.
Olhávamos um para o outro e sorrimos  Não eram precisas palavras, apenas me peguei a ele e continuámos a dançar. 

- Sabes bem - acabei por confessar, junto ao seu ouvido.

- Eu amo-te - as mãos dele ficaram no fundo das minhas costas, acariciando-me. 
Ele sabia que eu não lhe iria dizer o mesmo. Com o tempo...quem sabe.
Até à meia noite, ficámos ali pela pista de dança. Dançámos imenso! Músicas calmas, mexidas, as mais calientes e com um ritmo espanhol que eu desconhecia, mas que me foi ensinado, bastante bem diga-se de passagem. Estava a ser uma noite perfeita. Os problemas tinham ficado fora dali e nada me importava. Só me queria divertir. 
Era quase meia noite quando fomos buscar os copos de champanhe e nos dirigimos para o exterior, um espectáculo de fogo de artificio nos esperava lá fora.
Fez-se a contagem decrescente. O habitual:10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0! Mas foi feito, olhos nos olhos com o Salvio. Aproveitando cada momento, cada segundo do ano velho. 

- Feliz ano novo - disse-lhe, em português.

- Feliz ano novo - ele, falando no seu argentino, disse-me o mesmo. Trocámos um brinde e bebemos um gole de champanhe. 

E começámos bem o ano. Trocámos um beijo. Idêntico ao nosso primeiro, mas calmo, sem qualquer presa, aproveitando cada pedaço da boca um do outro.

Será que Ana encontrará em Salvio o amor que procura?

O que reserva o novo ano aos dois?