segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Capitulo 29 - "Ele não vai desistir de ti!"



(Rita)

Sinto-me falhar. Tive de optar entre o meu filho e o meu melhor amigo. Por muito que o André faça parte de mim, por muito que ele seja meu melhor amigo, meu namorado, meu colega de infância, por muito que ele faça parte de toda a minha vida, não me lembro de algum momento da minha vida em que ele não estivesse presente, não sei como seria a minha vida sem ele. Enquanto o David é algo que não planeei no momento, não tinha pensado que acontecesse tão cedo, e provou ser o mais genuíno dos sentimentos, tem laços verdadeiros de sangue, sentimentos que por muitos anos que viva nunca os irei, nem de perto explicar. O André faz parte da minha vida desde o momento em que nasceu, um mês e uns dias depois de mim, o David faz parte de mim desde o momento em que era uma semente na minha barriga. São sentimentos muito grandes mas que são impossíveis de se comparar, são muito diferentes mas fazem parte daquilo que sou, era e virei a ser. Mas no momento em que tive de escolher não hesitei, pode parecer infantil, pode parecer que não tinha de o fazer mas na realidade tinha, não conseguia continuar assim, não pensei em duas vezes quando escolhi o David. Conseguia manter a vida que tinha até então, conseguia sobreviver e dar tudo ao meu filho que precisava, tinha ajuda da minha prima e do André, mas não era feliz sabendo que estava dependente doutros, eu não seria feliz e sentir-me-ia irresponsável e má mãe, sentia-me má enquanto pessoa. A Ana e o André ficavam com uma responsabilidade que não era deles, e não queria que fossem responsáveis por algo que não tinham qualquer responsabilidade. Não pedi ao André que compreendesse, apenas que aceitasse, não o queria magoar, cada dia que passa gosto mais dele, um bocadinho por muito pequeno que seja é mais dele, é mais uma parte minha que faz parte dele. Ele é o meu melhor amigo, o meu colega de infância, talvez o meu único verdadeiro amigo, é o segundo pai do David, mas que até tem tomado mais responsabilidades que o próprio, faz parte da minha vida e sempre fará, o sentimento aumenta e vai aumentando a cada momento, sempre que estou com ele gosto mais dele. Apaixonei-me não foi pelo sorriso, nem pelo olhar, não foi pelos seus beijos ou pelo seu toque, mas pelas atitudes, pelas palavras e por tudo o que demonstrou, por aceitar os meus problemas, o meu filho, e tudo o que a minha vida ia mudar a vida dele. 
O meu filho é a minha essência, a minha flor da vida, é genuíno, é uma versão minha mais pequena, é ele que me faz lutar, que me faz sorrir, sou responsável por ele, sou a mãe dele e ele é o meu pequenino, ele é a minha razão de lutar e viver, por ele cresci, aprendi, luto e sou feliz. Ele é algo que é inteiramente meu, apenas meu, é algo que não existe palavras para descrever. Ele é fruto de uma relação que embora acabada e passada, ele é o fruto daquele amor que me uniu ao Miguel, é fruto de um passado que me irá afetar, é obra viva de um erro, de uma relação desprotegida e de uma série de escolhas que afetou a minha vida, entre elas, a decisão de não abortar, de deixar de estudar para educar o meu filho e tudo o que tinha acontecido desde o momento em que soube que estava grávida. 
O David teve influência nas minhas relações com o André, tanto no amor como na amizade, e o André tem e teve influência em tudo o que envolve o David desde o primeiro instante, foi ele o primeiro a saber da minha gravidez e não me disse o que fazer, mas aconselhou-me e não me abandonou mesmo depois do bebé nascer. Ficou do meu lado e apoiou-me, aceitou o meu filho e apoiou-me enquanto melhor amigo e mais recentemente namorado, aceitou ser o segundo pai do menino e ficar do meu lado, aceitou uma responsabilidade que não é sua e estar ao meu lado. O David, foi graças a ele que eu me apaixonei pelo André, acho que se não tivesse sido mãe tão cedo não me teria apaixonado por ele, sinceramente, tenho de ser verdadeira e assumir que no início o que me conquistou foi o sentimento de amizade que existia entre ambos, o olhar do “Gomas” a olhar para o David, e senti-lo como se fosse... Do seu sangue. O sentimento de partilha, de carinho, de afeição, o orgulho que ambos sentiam, mutuamente. Sentia-me feliz pelo André amar tanto o meu filho e pelo David gostar tanto, de uma forma tão intensa do “pápá Gomas”, da forma como gostava que nós fossemos amigos mas também os incentivos e a (alguma) pressão que fez para sermos namorados. É certo que o David teve influência para a demora no início do namoro, não diretamente, mas graças aos meus medos, aos meus receios, mas também foi por causa dele que tudo o que nos rodeia, mas também foi graças a ele que tudo começou. Tudo na vida tem um significado, uma explicação e se pensar bem apenas consigo ver que a cumplicidade deles e tudo o que sentem tem significado, foi como se o destino os tivesse feito “trocar favores”, foi o André que me apoiou a mim e ao Miguel na decisão de termos o David quando mais ninguém nos apoiava, e foi graças ao meu filhote que comecei a namorar com o André, e pensando nisto, é irónico. Quando no começo deste ano, tive que vir passar algum tempo (indefinido) a Grijó, não me passava pela cabeça que tinha de escolher entre dois dos homens da minha vida num futuro tão próximo, fiz esta viagem até junto dos meus pais para lutar pela guarda do meu filho. 
O Miguel, pai do Dádá recebeu uma proposta de emprego de Madrid e mudou-se juntamente com a namorada, Renata para o nosso país vizinho, mas primeiro falou comigo e anunciou a sua decisão. Senti uma grande responsabilidade sobre os meus ombros, porque enquanto ele vivia no Porto e eu sei que se algo me acontecesse bastariam umas horas de carro e ele estaria junto ao nosso filho, enquanto em Madrid o menino ficaria ainda mais á minha responsabilidade, se era mãe solteira até então depois da despedida do Miguel fiquei ainda mais sozinha. Por muito que o André me apoie e me ajude existe atitudes e palavras que ele nunca poderia fazer, o pai era e sempre seria o Miguel, por muito que eu quisesse que não fosse, por muito que o David amasse e respeitasse o André e o André quisesse e amasse o David como tal e nos seus pensamentos fosse como seu, não era realmente de sangue. Tive uma conversa franca e matura com o Miguel, apesar de não sermos amigos, o único membro que ainda nos unia era o nosso filho e tomamos algumas decisões importantes. Apesar da distância, pai e filho falariam sempre que pudessem, tanto pelo telefone, como pelo twiter, instagram, facebook ou qualquer outra rede social. E sempre que o Miguel viajasse até Portugal tinha o direito de estar com o filho, caso tenha pago a custódia de alimentos do respetivo mês. Cujo valor aumentou devido ao melhor emprego que conseguiu e devido também ao fato de estar tão longe e ter menos influência na educação do filho, o valor deixou de ser 250€ para 450€, também devido ao importante fator de estar desempregada. Apesar do Miguel não gostar do André, teve de aceitar que ele era um segundo pai, devido á nossa separação e que me iria ajudar na educação do menino, devido á sua ausência era como um segundo pai, tinha quase a figura paternal do mesmo, apesar de alguns receios e medos de “perder” o filho teve de aceitar, afinal os “meninos” amavam-se e o pequeno tinha também alguém no papel de segunda mãe, a madrasta Renata. Mas os pais dele não foram da mesma opinião, então puseram um processo em tribunal para terem a custódia do David Simão, o que me obrigou a ir viver durante algum tempo para Grijó, onde lutaria pela custódia do meu filho. Mas tomei a decisão de o deixar no Seixal, longe de todos estes maus sentimentos, longe sequer de imaginar que estaria em causa ficar longe da mãe, para egoísmo dos avôs paternos que pensam que estar longe do pai e da mãe é o melhor para o pequeno, e porque não gostam do André, acusam-me de ser irresponsável e má mãe por ter um namorado. Podiam-me acusar de ser teimosa, má mulher, péssima namorada, podiam-me acusar de todos os defeitos que eu ouvia sem responder, mas não admito a ninguém, nem por um segundo que me acusem de ser má mãe quando me esforço e faço tudo pelo bem do meu filho. 
O processo deu entrada em tribunal e arranjei rapidamente um advogado que me aconselhou a procurar emprego para manter a custódia do Dádá. Como não conseguia arranjar um emprego estável até começarmos a luta pelo menino decidi recorrer aos meus pais. No início era só uma questão de tempo, ia ganhar a guarda do pequeno e ia voltar para o Seixal, para junto dos que amamos, e até arranjar um emprego contava com o apoio da minha prima e do André, mas a situação deixou de ser apenas uma questão de tempo para ser uma decisão definitiva. Até podia voltar para o Seixal e até conseguir um emprego contar com o apoio do André e da Ana, o menino até ficaria bem mas eu não me sentiria bem, não me sentiria feliz, não me sentia bem, não tinha de viver financeiramente á custa de outros. 
Nunca, mas nunca, nem por um segundo me esqueci do que estava a desistir, estava a abdicar do André, da nossa relação de amor que demorou 19 anos a ser construída, levou 19 anos a estar ao nível que está hoje, ele conquisto-me. Ele mudou-me enquanto pessoa, enquanto mulher, enquanto amiga, mãe e namorada, o André é incrível, tenho a certeza que gosto mais ainda mais a cada minuto que passa, cada segundo longe dele, longe de tudo o que ele me transmite sufoca. É mais que saudades, é um nível diferente deste sentimentos, mais intenso. Talvez estejamos numa relação há pouco tempo para lhe dizer algo tão sentido mas a cada minuto eu sinto mais e mais que o amo. Talvez sejam poucos os que compreendem o que eu sinto, é verdade, ás vezes eu pergunto-me se valerá a pena ter abdicado de algo que eu gosto tanto, algo que o meu filho goste tanto só porque me sentia melhor. Secalhar estava a ser egoísta e só pensar em mim, talvez não estivesse a fazer o melhor para ninguém e o mais certo era voltar para o Seixal e sermos felizes. Depois, conseguia ganhar consciência do que estava a fazer e acabava por aceitar que o que fazia era o melhor, o meu filho estava perto da família paterna e materna, estava também próxima da família do André. O menino seria feliz aqui. E eu também. Estava a fazer o melhor para o menino, pensava eu, ou talvez não, mas tinha de tomar uma decisão e decidi afastar-me do André, continuavamos amigos mas o meu coração continuava e ficaria sempre desfeito, a principal causa do fim da nossa relação era eu. 
Além de ter saudades de os ver próximos de mim, saudades de falar com a minha prima sobre tudo da nossa vida, dos nossos abraços, dos nossos beijinhos, das nossas palavras, do seu carinho e da sua amizade, bem próxima de mim, tinha saudades de tudo. Sim, ela está com o Salvio (ou Toto), ou Eduardo, ainda não descobri como lhe chamar, prefiro Toto na verdade, e é o que o David lhe chama e é uma alcunha bonita e simples. Queria sentir-me feliz pela felicidade dela, queria que ela me contasse tudo mas também ver a relação dele com o David, de os ver juntos. Estava a abdicar do meu romance com o André, mas também a afastar-me da minha melhor amiga e prima de sangue, mas irmã de coração. Queria, adorava, sonhava ajudá-la, aconselhá-la, tenho feito mas não consigo sentir tudo estando a esta distância dela. Tinha saudades da nossa conversa matinal (ou falta dela), das nossas “discussões para saber quem limpava a casa, para saber quem arrumava ou quem cuidava do menino, das opiniões que trocavamos. Tinha saudades do André, do seu perfume especial e único, inconfundível para mim, saudades de cruzarmos os dedos um do outro, do seu palmo da mão tocar na minha, dos seus beijinhos na testa ou na cabeça, dos seus beijos na bochecha, das palavras mais amigas ou das palavras mais românticas, das suas provas de amor diárias para o quanto me ama, ou ama o David, de me sentar no seu colo, ou até dos momentos mais intensos que passávamos  momentos mais íntimos vividos a dois na nossa cama. Do David sinto saudades do seu sorriso, dos seus gritos enquanto lhe fazia cócegas ou fugia de mim enquanto ameaçava que fazia, das suas palavras “especiais” ou a forma como ele dizia, trocando sempre os “r” pelos “g”, do seu jeito de “menino do seu nariz”, de se achar muito “senhor” mas também de assim que via o André, corria até ele e dizia: “Mãmã, mãmã olha quem chegou! Gomas” e ia a correr até ele a rir-se e começavam a brincar. Do seu jeito de jogar á bola, do seu “mau feitio” do sono. Tinha saudades de tudo o que envolvia aqueles três, até aos mais pequenino feito que enquanto estava com eles passava discreto, agora era úncio quando me lembrava, era especial.
No começo deste ano falava todos os dias com os três (com a minha prima, o meu namorado e o meu filhote), mandávamos mensagens, falávamos pela internet, pelo computador, a distância só não conseguia matar totalmente as saudades, não sentia os meus beijinhos dos meus homens, os desabafos da minha prima, não sentia algo mais “pessoal”, mas com o passar do tempo e com, cada vez mais certeza que iria ficar, definitivamente em Grijó deixei de falar com eles com tanta frequência, por vezes até quando sabia que o André estava fora é que entrava em contacto com a Ana e o David. E o André percebeu isto, a Ana evitava dizer-lhe mas o David, na sua inocência acabava por lhe dizer. Evitava falar com ele, não era pelo facto de não ter saudades, porque as tinha mas era pelo sentimento de lhe dar espaço e tempo e assim fosse mais fácil aos poucos e poucos aceitar a minha decisão e esquecer-me enquanto namorada, porque ficariamos eternamente amigos, acontecesse o que quer que fosse. Apesar da relação deles estar cada vez mais próxima, serem mais pai e filho, apesar de não o serem de sangue, sentiam-se como tal e eram quase como tal. Neste último mês e meio eles têm sido um pai e um filho, até se chamam “pápá Gomas” e “bebé Dádá”, mas o menino respondia sempre dizendo que já era um “homem”, será que passa pela cabeça de alguém ouvir uma criança de 3 anos dizer que já é crescido?! O tempo sem dúvida que passou a correr, ainda me lembro como se fosse ontem da minha gravidez, de ver a barriga a crescer, dos primeiros pontapés que ele deu na minha barriga, de saber que era um menino e só no final da gravidez termos acordado num nome. Sempre disse que os meus filhos teriam um nome original, que não fosse demasiado comum, mas que fosse simples. Quando descobrimos da gravidez eu disse logo que se fosse rapaz se chamaria David e o Miguel sempre disse que se chamaria Simão. 
O meu pequenino, apesar de todas as minhas tentativas que ele não entendesse o que se passava, acabou por perceber. O meu filho é atento e “muito senhor do seu nariz”, e um dia perguntou ao André a justificação disso mesmo e o André tomou uma atitude enquanto pai, decidiu contar-lhe a verdade. 
Era um domingo á tarde e os pais do André convidaram a minha família, eu e os meus pais a irmos jantar a sua casa, sempre os tratei por “tios”, eram quase como isso mesmo para mim, eram os pais do meu melhor amigo e eles sabiam, eram os pais do meu namorado, mas isso apenas sabia o meu cunhado Simão, ele sabia que era mais que uma amiga na vida do André, sabia toda a nossa história, tinha ouvido as duas versões da história e neste momento, era alguém importante para mim, era um verdadeiro amigo que nunca me tinha criticado, apenas dava a sua opinião. Era irmão do André mas sabia ver os dois lados da mesma história e entendi-a a minha vontade, a minha decisão mas incentivava-me também a voltar para o Seixal, para juntos dos que amo. Já tinha chorado no seu ombro bastantes vezes, ele tinha-me sempre limpo as lágrimas e dado milhões de motivos para sorrir. Era um verdadeiro amigo. O telefone tocou pouco depois de lá chegar juntamente com os meus pais, estava a conversar com o Simão depois de cumprimentar os meus tios quando o meu telemóvel toca. Era a Ana. Pedi licença, atendi a chamada e coloquei em alta voz:

 -Olá prima! – Não obtive resposta da parte dela, esperei alguns segundos e obtive resposta mas não a que queria.

-Pápá Gomas. – Ouvi a voz do meu filho a chamar pelo André e fiquei sem reacção  era uma nova forma como se tratavam, e eu não a conhecia. 

-Diz bébé Dádá. –  O Simão deu-me a mão e levou-me até ao seu quarto onde teríamos mais privacidade, ele conhecia-me sabia que o mais certo era começar a chorar. Segui-o, ele fechou a porta e continuamos a ouvir.

 -Poque é que a mãmã tá longe? Tenho mutas chaudades dela e ela diz que é pa meu bem mas num chei poquê eu quelo ela petinho de nós. Quelo mostal-lhe o meu novo golo e lhe dize que o Toto é nocho amigo agola. – O menino não podia ser mais directo  apesar do seu português “meio achinesado” entendi perfeitamente o que queria dizer, ele queria-me perto dele, queria que fossemos outra vez os quatro, ou melhor os cinco, porque o Toto já fazia parte da sua vida.

-David senta aqui. –  Disse o André. – Precisamos de ter uma conversa de homem para homem, mas tens de me prometer que te vais comportar como um crescido porque é o que tu és! E não te vais chatear com a mãmã! 

-Pometo! Pomessa de Dádá! –  Sempre que o David prometia alguma coisa era sempre como Dádá, assim como quando olhava para um espelho tinha uma “conversa” com o seu amigo imaginário Dádá, sendo ele o David. Durante esta minha estadia tinha-se perdido o hábito de lhe chamarem David Simão, agora era simplesmente David ou Dádá. Só quando ele fazia disparates é que passava a ser, e novamente, o David Simão. 

-Os teus vóvós –  Começou o André mas o menino interrompeu.

 -Já chou cescido Dê. – Ouvir o meu filho chamar Dê ao André em vez de Gomas? Estranho! Nunca tinha ouvido. – Chei que chão vós. – Na cabeça do pequeno ele já era um homenzinho porque dizia já saber as cores importantes como o vermelho do Benfica. Já sabia todas mas a favorita era a vermelha porque dizia ser a cor do “gorioso”. 

-Desculpa filhote. –  Senti-me nas nuvens, eram pai e filho, de coração. – Então eu conto-te tudo direito se tiveres dúvidas perguntas e eu respondo. Então o que se passa é que a tua mãmã teve de ir ao sítio onde tu nasceste porque os teus avós, os pais do teu pápá.

-Os teus papás ou os pápás do pápá Miguel? 

-Do pápá Miguel filhote Dádá. O teu pápá foi viver com a tua madrasta, a Renata para Madrid, que é em Espanha e eles querem que tu vás viver para ao pé deles, no sítio onde tu nasceste pequenino. Mas não é fácil, tem de tratar de coisas de adultos.

-Expica! Eu já pecebo! 

-Os teus avós puseram a mãmã em tribunal que é aquele sítio onde estão aqueles senhores com o martelo e decidem coisas importantes, coisas de adultos sabes? Vão lá decidir quem é que fica contigo meu bem.

-Mas eu goto de ti, da pima, do Toto, do Godigo e da mãmã não pocho fica com vochês poquê? E não podem fala aqui ao pé de nóx? Não pocho dize que não quelo tá com eles?

-Não pequenito, as coisas não funcionam assim e a tua mãe teve de ir lá ao Porto tratar de tudo para tu ficares cá. Só que são vários dias e a tua mãmã teve que lá ficar. Mas ela não queria que tu te chateasses com eles por isso foi e deixou-te cá connosco. 

-Max eu podia te ido e dize que não quia esta com eles nem com o pápá eu que-lo fica aqui! –  Respondeu convicto. 

 -Também quero que vocês fiquem aqui pequenino! Conheço a tua mãe desde que eramos bebés, desde que nasci e somos amigos! Esta coisa dos namorados começou há pouco tempo, e foi estranho, nunca tinha pensado nisso e tu foste o principal culpado!

-Max fiz mal? Não foi de poposito dexculpa! Max vochês não che vão cheparar como o Godigo e a pima poix não?

-Não fizeste mal nenhum pequeninho, fizeste uma coisa muito boa! Nós gostamos muito um do outro por amor, por namorados e vamos fazer tudo para não nos separarmos e ficarmos felizes mas tu tens de ajudar, a portar-te bem! E pode ser que depois tenhas bebés aqui em casa!

-Eu quê-lo bebés! Mas eles choam muito e depois tu e a mãmã deixavam de binca comigo! 

-Oh meu amor não iamos fazer nada disso! Iamos continuar teus amigos e brincar contigo como vai ser sempre mas iamos ligar mais um bocadinho ao bebé porque ele precisa mais de nós! 

-Ta bem. Podes liga á mãmã e dize que eu tenho chaudades e que-lo i buscá-la e falo com os avós pa fica com vochês?

-A mãmã foi jantar com os meus pais e com o meu mano, o Simão, lembraste?

-Chim! Acho que sim! Ele não tinha essa coisa que pica na cara como tu poix não?

-Não. E chama-se barba David. Gostas?

-Chim! Muito quando fo gande também que-lo te barba mas depoix vai picar chó contigo é que a mãmã não reclama que pica! 

-Ela já me disse mas não se importa, a tua mãmã gosta! E tu também e não te preocupes que quando quiseres ter eu fa-lo com a tua mãmã e ela deixa pode ser?

-Obigada! Então podemos ir joga um padinho á bola e depois tefonamos á mãe e ao teu mano? 

-Sim meu amor. Então vamos lá jogar á bola, temos é de avisar a prima!

Desliguei a chamada e abracei-me ao Simão.  Ele disse:
-Ritinha. Tu já sabias que isto ia acabar por acontecer.

-Sim, mas não estava preparada. O teu irmão não sabe o quanto eu gosto dele e esta relação tão próxima com o André, deixa-me orgulhosa mas também me mata aos poucos. –  A minha cabeça estava pousada no seu ombro e ele colocou as suas mãos nas minhas bochechas e fez-me estar frente a frente a ele, olhos nos olhos. 

 -Não te vou mentir, vou ser teu amigo como sempre fui e dizer-te a verdade. O André gosta muito, muito de ti e ama o teu filho como se fosse dele, ele não vai desistir de ti mesmo depois de tu lhe dizeres que vens viver para cá. – Já tinha confessado ao Simão que vinha viver em definitivo para Grijó. Também já tinha confessado á minha prima que não voltava mais para o Seixal mas não sabia como dizer ao André, queria dizer-lhe mas não sabia como. – E agora sou eu que te vou dizer algo que jurei ao meu irmão segredo. Ele ontem perguntou-me se tu vinhas para cá em definitivo, não lhe menti. Disse a verdade e que dentro de 3 dias, a Ana trás o menino e as vossas coisas para ficarem cá. Chorou, pela primeira vez em dezanove anos ouvi o meu irmão chorar, ele está desesperado, magoado, desiludido, ele ama-te, mas confessou-me que sente que tu estás a desistir dele, mas vai lutar por ti. – Abracei-me a ele e chorei. Não queria desistir do André, juro que não, amo-o de forma diferente do que amo o David, mas tenho cada vez mais a certeza que ele fará parte da minha vida até aos nossos últimos dias. – Não chores Ritinha, eu fiz isto para teu bem e não quero que acabe assim. 

-Não tenho coragem para falar com ele, quem sabe daqui a uns tempos, eu consiga dizer-lhe tudo. Não quero desistir dele e não o estou a fazer, mas tenho de abdicar e pôr os meus sentimentos de lado para bem do David. 

-Mas tu sabes que não é o melhor para o David, o melhor para ele era ficar junto do David, junto da tua prima, todos juntos no Seixal, desculpa dizer-te isto mas tenho de ser franco. Vocês os três vão sofrer, compreendo o que tu sentes e a tua atitude mas não posso ficar calado tu és minha amiga mas ele é meu irmão.

-Sou mãe dele, sempre serei e agora não quero falar mais disto. Desculpa. 

-Mais cedo ou mais tarde terás de falar mas eu compreendo. Mas vamos lá jantar que já estão á nossa espera e estranham senão formos.

A conversa acabou, ou melhor ficou adiada. Fomos jantar e os dias passaram a correr. Ganhei a custódia do meu filho, apesar de usarem todos os argumentos contra mim, até do facto de ter namorado, acusaram-me de o ter, e eu neguei. Disse que realmente tinha tido namorado, mas a relação acabara. Em tribunal iria defender o André com unhas e dentes, mas quem deu essa informação foi a minha advogada e eu respeitei, mas fiquei magoada comigo mesma por negar o André. Gostava demasiado dele mas as minhas atitudes diziam o contrário, e todos os dias quando me deitava na cama chorava, minutos ou horas, perdia a conta ao tempo que sofria pelas minhas atitudes, por estar a fazer algo tão... Desumano. Todos as noites chorava, sentia-me vazia e com vergonha de mim mesma, quase ao ponto de sentir alguma repulsa do que fazia.
Três dias passaram-me depois do jantar onde tinha falado com o Simão e escutado aquela conversa. Hoje era o dia, não o lembrava com felicidade, antes pelo contrário, relembrava o que o tornava tão especial pela negativa. Chorava. Estava a desistir do André. A Ana chegava ao final da tarde com a Ana, que trazia as minhas caixas, as poucas coisas que me pertenciam e ainda estavam no Seixal, era o último dia, o dia das decisões. O meu filho assim que me viu correu para os meus braços mas eu precisava de falar com a minha prima e a minha mãe levou para lanchar e nós trocamos alguns dedos de conversa:

- Rita...o David precisa de ti. Acho que também precisas dele. E precisas de mudar de atitude depressa  O André está a dar em maluco, ele gosta mesmo de ti. – era genuína e verdadeira, queria o melhor para nós os três mas eu não iria desistir da minha decisão final.

- Eu estou a fazer o que é melhor para o David.– Disse mas o meu coração queixava-se de uma dor profunda, era o melhor para ele mas não era para mim e para o André.

- Não digo que não, mas não desperdices um amor. – Confessou-me. 

- Como é que vão as coisas com o Salvio? – Fugi “com o rabo á seringa”. Não queria falar mais sobre isso, claro que nunca me iria esquecer mas não queria desabafar. E queria saber o que se passava com ela e com o Salvio, ela parecia feliz mas eu queria saber mais e perguntei. 

- Vou ter com ele. – Com esta é que eu não contava!

- Hã?

- Vou agora para Leverkusen. Ele saiu hoje de casa sem a minha resposta ao pedido de namoro. 

- E o que lhe vais dizer? 

- A verdade. Quando regressar falo contigo que agora tenho de ir apanhar o avião. – Despedimo-nos e ela foi embora para ir para a Alemanha, o quanto eu queria ir para lá também nem que fosse dar um beijo ao André, dar-lhe um abraço! Eu queria era estar junto dele. Queria que ele me abraçasse e me sussurra-se com os lábios encostados na minha orelha, minha pequenina. Nesse dia deitei-me na cama logo depois do jantar, ao tentar adormecer o David deitei-me ao lado dele e enquanto o menino dormia, eu abraçava-o entre os meus braços e chorei. Chorei toda a noite, sentia-me sufocar, quase com os pés cortados sem poder andar, o único feito que me animava era poder ter o meu filho do meu lado, sentir o seu cheiro de menino pequena e tentar endireitá-lo na cama, porque nem a dormir o traquinas pára quieto. Não dormi, não conseguia a minha cabeça estava longe, estava mais concretamente em Leverkusen, na Alemanha. 
O dia seguinte chegou, e apesar de não ter dormido estava com a mesma energia que se tivesse dormido, completamente de rastos, sem forças. 
O meu filho não percebeu que não tinha dormido, ele assim que acordava não ficava logo energético  ia aos poucos ganhando energia, por isso não estranhou nada. Ainda estava na fase do “dormir em pé”, mas assim que cheguei á mesa do pequeno-almoço a minha mãe percebeu que não tinha dormido, por muito que eu tivesse escondido com maquilhagem, ela não faz milagres e não taparam os papos gigantes que tinha debaixo dos olhos. Voluntariou-se a tomar conta do menino de manhã e á tarde, logo depois do almoço iria buscá-lo, conversavamos e assim, talvez, o menino me fizesse mudar de ideias, segundo a teoria da minha mãe. Despedi-me do meu pequenino, voltei a vestir o meu pijama e fui deitar-me, mas mal pousei a cabeça na almofada,  adormeci. Por muito que a minha cabeça deitasse ideias outras mais loucas e outras mais sãs, o meu coração batia sempre no mesmo sentido: André! Adormeci a pensar nele e foi impossível não sonhar com ele. 

Sonho 

Era precisamente dia 14 de Fevereiro, dia dos namorados, e véspera do dia em que devíamos celebrar 2 meses de namoro. Mas a nossa relação chegou ao fim, eu terminei mas não estava bem, precisava de me animar. O Benfica jogava e era das poucas oportunidades que eu tinha de ver o André, mas também de distrair-me, sofria por aquele clube e apesar de ver o André, a minha cabeça e o coração só sofriam pelo clube, como nortenha não devia ser benfiquista, mas foi um gene partilhado pela minha família e sempre me lembro de ter sido, desde muito pequenina. Duas horas antes do jogo envio-lhe uma mensagem com a letra de uma música para o animar: 

«Para: Meu Príncipe
“Tu és mais forte e sei que no fim vais vencer
Sim, acredita num novo amanhecer
Não tenhas medo, sai à rua e abraça alguém
E vai correr bem, tu vais ver”;
“Tu mereces muito mais
És forte, abanas mas não cais
Mesmo que sintas o mundo a ruir
Quando as nuvens passarem vais ver o sol a sorrir”;
“Limpa as lágrimas e luta
Segue o teu caminho e escuta
A voz dentro de ti
As respostas que procuras, dentro de ti
Acredita em ti que tu és
Mais forte e tens o mundo a teus pés”;
“Um dia tudo fará sentido
E vais ver que terás o prémio merecido”
Boss Ac: Tu és mais forte

Tu és mais forte e no fim vais vencer, existe apenas uma vida aproveita e sê feliz! Adoro-te com todo o meu coração mas tu mereces melhor, luta pela tua felicidade que o que eu faço é pelo David. Desculpa, adoro-te e espero que possamos ficar amigos serás sempre das pessoas que passou pela minha vida, e que a marcará.»

(Para quem não conhece a música aqui tem o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Qc6QrEGiD_A)

Passado alguns minutos, sinto o telemóvel avisar-me que tinha uma mensagem. O nome continuava igual: “ meu príncipe”. Sorri, esperava que ele tivesse compreendido, que aceitasse. Fiz tudo para não o magoar, mas tive de escolher e talvez uma canção provasse melhor o que sinto do que as minhas atitudes.

«De: Meu Príncipe
"Desde o começo, não sei quem és, no fundo não te conheço
Se calhar sou o culpado, se calhar até mereço
Quis confiar em ti mas não deixaste, tu não quiseste
Imagino as coisas que tu nunca me disseste
Ás vezes queria ser mosca e voar por aí, pousar em ti
Ouvir o que nunca ouvi, ver o que nunca vi, nem conheci
Saber se pensas em mim quando não estás comigo
Será que és minha amiga como eu sou teu amigo?”;
“Apostei tudo o que tinha saí a perder, sem perceber
Surpreendido porque quem pensei conhecer”;
“Não peço nada em troca, apenas quero sinceridade
Por mais crua e difícil que seja, venha a verdade
Será que é verdade quando me dizes que me amas?
Será que alguém te toca em segredo? Será que é medo?
Será que para ti não passo de mais um brinquedo?
Será que exagero? Será que não passa de imaginação?
Será que é o meu nome que tens gravado no coração? Ou não?
Eu sou a merda que vês mas ao menos sabes quem sou
E sabes que tudo o que tenho é tudo aquilo que te dou
Nunca te prometi mais do que podia
Prefiro encarar a realidade a viver na fantasia;
A carta que eu nunca te escrevi
A carta que eu nunca te escrevi”
Boss Ac- A Carta Que Nunca Te Escrevi

Estou magoado, desiludido e triste contigo Ritinha, tu sabes aquilo que sinto e tu também sentes não percebo porque desististe sem sequer... Tentar. Estou magoado contigo porque enquanto minha namorada devias ter falado comigo enquanto amiga devias fazê-lo, e o meu filhote Dádá sai prejudicado no meio disto tudo. Adoro-vos aos dois».

(Para quem não conhece a música, tem aqui um site com a letra e música:

Acabei de servir as pessoas no café dos meus pais, e enquanto eu e o meu pai estávamos a ver o jogo do Leverkusen contra o Benfica, enquanto a minha mãe servia as poucas pessoas que faziam pedidos durante o jogo. Naquela rua havia muitos benfiquistas e anti-benfiquistas, e juntavam-se sempre todos ali no café para ver o jogo. O David esteve a brincar comigo durante a primeira parte do jogo, mas assim que entrou o André, o pequenino sentou-se ao meu colo a ver o jogo, o André entrou ao intervalo e passado nem 10 minutos de campo, um jogador da equipa adversária fez-lhe uma falta mais “dura” e ele caiu ao chão e precisou de ser substituído. Saiu de campo numa maca e com vários responsáveis médicos á volta. Senti-me gelar, estava a sofrer e não consegui conter as lágrimas, o meu filho também não estava bem. Chorei e não me consegui acalmar. Decidi então voltar para o Seixal, precisava de estar perto dele, merecíamos, os três ser felizes. Arrumei tudo e ainda consegui chegar a casa antes dele.

Fim de sonho

Dei um salto na cama de susto, o sonho parecia tão real... E eu não queria perdê-lo. A minha decisão estava tomada mas podia voltar atrás. Será que ele me perdoava? Fui tomar um banho para ver se as minhas ideias ficavam claras, mas nem o banho ajudou, o coração não limpava, nem esquecia nem com água, nem com álcool. Nenhum betadine iria fazer qualquer cura, o único que curava este mal era o tempo, mas eu precisava de estar com ele e decidi que não iria desarrumar as malas e as caixas da entrada da minha nova casa, consoante o jogo corresse para o André eu tomaria uma decisão. Mas também precisava de falar com o Simão e com o David. 
Fui buscar o meu filho ao café dos meus pais e vim para casa onde preparei o almoço favorito do meu filhote, ele estava um bocadinho triste, sentia-se perdido aqui no norte. Viveu já cá mas era tão pequenino que nem tem memória, e no Seixal tinha a Ana e o André, cá só tem a família, lá tinha os amiguinhos da escolinha e ainda o Rodrigo, e o Salvio. Quer quisesse ou não, mas embora me sentisse surpreendida, o menino tinha saudades do Toto, e explicou-me que a minha prima tinha ido atrás dele, tinha ido atrás de um amor. Talvez eu também devesse fazer isso. 
Preparei o almoço do meu pequenino, nos últimos tempos ele só comia massa, dizia que era a única coisa que gostava, então adorava atum com massa, e como a mãe adorava delícias do mar. Era algo muito prático de se fazer, e rápido, acabei por preparar para o nosso almoço, até porque da parte da tarde íamos passear com o Simão. Ele tinha pedido a tarde de folga para me animar, o meu pai tinha confessado ao seu pai e ele fez isto por mim, fiquei feliz, assim podia desabafar com ele, sentia-me mais “limpa”. 
Comemos e o menino adormeceu enquanto lavava a loiça, almoçamos mais tarde do que ele está acostumado e as sestas da tarde são religiosas para ele. Fui deitá-lo na nossa cama, porque era um hábito que tinha apanhado, queria uma cama de solteiro para os dois dormirmos, já estávamos habituados a dormir juntos e próximos, mesmo com calor ou com frio. O Simão tocou á campainha e fui abrir, cumprimentou-se com dois beijos e um abraço. Pedi-lhe para irmos para o quarto dos meus pais conversar, porque o quarto era logo ao lado do quarto onde o pequenino estava e o Simão fez-me a vontade. 
-Simão. – estava a olhar para o chão e não me ouviu, ou então apenas não me olhou. – Nuno Simão importaste de olhar para mim?
-Começo a pensar que é hábito os pais chamarem os filhos pelos dois nomes! Se for a contar isso então o André também chama David Simão ao pequenino. – Não esperava aquilo. Não queria que ninguém falasse comigo sobre esse fato, e muito menos esperava que o meu cunhadinho o dissesse, fiquei boquiaberta a olhar para ele. – Desculpa Ritinha, não quis. – abraçou-me e deu-me um beijo na testa. Interrompi-o.

- Sabes até tens razão. E é tão verdade que não dormi hoje por causa disso e esta manhã dormi mas acordei com um pesadelo, mas isto vai passar. O melhor para ele é eu estar aqui, é estar longe dele. Ele merece melhor e será feliz com outra pessoa, mas pode sempre contar comigo para o apoiar e ajudar porque os verdadeiros amigos continuam e continuaram para o resto da vida! – afastou os braços de mim e levantou-se. Abriu os olhos e respondeu:

- Pára Rita, pára por favor! Não aguento ouvir-te mais a dizer isso, estás a tentar convencer-te disso dizendo em voz alta mas não consegues, nunca vais conseguir-te porque o teu coração sabe que isso não é o correto. O teu coração de mãe diz que é o melhor para o David estar cá, mas o teu coração de amiga e namorada diz o contrário, e só és feliz se o juntares aos dois, faz um favor a todos se os amas, deixa isto e vai a correr atrás do André!  

- E por amá-lo tanto que me afastei, não quero que ele deixe de realizar os sonhos dele por nossa causa, quero que ele seja feliz e se depender de mim sofrer para ele ser feliz eu sofro! Quero é o melhor para ele. E o David irá compreender porque gosta tanto dele como eu e quer o melhor para ele! 

-O melhor para ele é estar do teu lado, é estar ao lado do David, é estares os três como família de sangue que são! Acredita no meu irmão e no que ele sente e no que tu sentes, acredita que o menino embora pequenino já entende bem as coisas. Neste momento dou-te duas opções: ou vais passear e arrefecer essa tua cabeçinha ou vais ter com o André, quer seja ao Seixal como a Leverkusen. Tens de aceitar a tua atitude, ou sofres com a tua decisão de te afastares dele ou vais atrás dele não podes continuar assim. – Abracei-o e soltei uma lágrima teimosa mas envergonhada, a minha vontade era de chorar até sentir aquele sufoco no meu peito passar, o que poderia nunca desaparecer, mas controlei-me e pensei que talvez ele tivesse razão. Tinha de pelo menos fazer crer o meu filho e os que me eram próximos que estava bem. 

- Obrigada Simão! Do fundo do meu coração, muito obrigada nunca vou conseguir agradecer tudo o que fizeste por mim! 

-Os amigos estão cá é para as ocasiões! – Abracei-o e ele agarrou-me com força entre os seus braços. Até que senti algo empurrar-nos, a separar-nos, perto das minhas pernas, olhei e era o Dádá. 

- Agoa namoas com ele? Gotas mais dele do que do pápá Gomas? Já não goto de ti! – Fugiu do quarto e eu fiquei preocupada, não queria que o meu filho pensasse que tinha deixado o André por causa de quem quer que fosse. Até o tinha deixado por causa dele. 

-David! – fui atrás dele em direcção ao nosso quarto, onde sabia que ele estava e estava deitado de barriga para o colchão, com a cabeça pousada na almofada a chorar. Fiz-lhe uma festinha na cabeça mas ele puxou-me e disse:

-Não mãmã, não queo, tu não gotas de mim nem do Gomas, só gostas do Shimão.

-Filho, não é nada disso! Eu vou explicar-te tudo mas quero que me oiças com atenção, vou explicar-te como se fosses um rapazinho grande pode ser? Mas tens de ouvir com atenção e calado. 

-Tá bem mãmã. – Sentou-se na cama ao meu lado e limpou as lágrimas.

-David, não é fácil. Gosto muito de ti e do André, mas tu és meu filho e tenho de tomar conta de ti sempre, mas não é fácil, tenho de dar-te de comer, de vestir, tenho de ter dinheiro para cuidar de ti, e só a trabalhar é que o consigo, e ao pé do André e da prima Ana, só conseguia por causa deles, eles é que me davam dinheiro. Então vim para cá, porque os teus avós queriam ficar contigo e comecei a trabalhar no café dos avós e viver com eles e conseguia ter dinheirinho para nós então decidi virmos viver para aqui. No Seixal tu tens os teus amigos, tens o Rodrigo, o Salvio, a Ana e o André, aqui tens a tua família e a família do André e aqui pensei que talvez fosses feliz. 

-Mãmã, tu gotas do Andé e ele de ti! Gosto muito dos dois vochês são os meus papás e que-lo que fiquem juntos e felizes! Não que-lo como os meus amigos que os pápás fiquem sepaados!  

-Mas o André tem os sonhos dele, ele gosta de ser jogador de futebol no Benfica e tu sabes disso, mas um dia ele pode ter de ir embora e nós David? Como ficamos?

-Vamos com ele! Tenho aqui os meus amigos e a pima, mas ela pode i connosco e leva o Toto. 

-E tu não te importavas de deixar aqui os teus amigos e a nossa família e irmos para longe, só para estar com o André? 

-Não. Vou te muitas chaudades mas podemos fala como eu e tu falavamos quando tava com a pima e tu tavas aqui! Eu que-lo o meu pápá e a minha mãmã juntos!

-Mas tu sabes que o André não é teu pai, eu é que sou tua mãe e ele não. É o teu padrasto, assim como a Renata é a tua madrasta. 

-Shim, eu shei. Mas na históia da Banca de Neve, que a pima me leu pa domir a madasta dela é má e é difíchil dize padasto e é feio tão chamo pápá Gomas e ele fica todo contente! E chama-me filhote Dádá, mas eu chamo David já sou cescido! – Fez “trombinhas”. E eu sorri. 

-Pois já meu amor! Mas agora vais-te deitar e dormir que a mãmã vai deitar-se ao teu lado mas primeiro vai só avisar o Simão pode ser?

-Mãmã pocho i contigo pedi desculpa ao Shimão? Ele é meu tio não que-lo que ele fique tiste! 

-Sim, claro anda meu amor! – Dei-lhe a mão e perguntei se ele queria vir para o meu colo mas ele não quis. Fomos até ao quarto dos meus pais e falei. – Simão, primeiro queria dizer-te que eu e o Simão vamos descansar um bocadinho mas podes ficar aqui por casa que vamos ver mais logo o Benfica. Mas antes o David Simão tem algo para te dizer.

-O que foi? – Ele baixou-se e ficou do tamanho do David. 

-Desculpa. A mãmã faou comigo e shei que ela gota muito do pápá Gomas como eu, e shei que tu és o meu tio, que-lo que fiques feiz! Fui mau, desculpa! 

-Eu desculpo pequenino! – Deram um abraço. – Posso pedir-te duas coisinhas?

-Shim. 

-Dás-me um beijinho? – O David Simão deu um beijinho ao Simão. – E prometes-me que tomas bem conta da tua mãmã? 

-Shim, eu já chou cescido já sei muitas coisas! Mas agoa. – Bocejou mas tapou a boca com a mão. – Eu e a mãmã vamos domi! Xau beijinho pota bem! – me a mão e levou-me em direcção ao quarto, deitamo-nos e acabamos por adormecer pouco depois.  
Depois de dormirmos, e eu conseguir descansar como não conseguia há bastante tempo, fui acordada pelo Simão, mas senti a cama vazia. Mas onde é que estava o Simão. Sentei-me na cama preocupada. 

 -O Simão? – Perguntei preocupada. 

 -Está na sala. O Benfica não tarda nada começa e ele quis que eu te viesse acordar para vires ver o André. Ele hoje é titular, anda preguiçosa! – Tentou levantar-me da cama e eu sentei-me nela. 

 -Dá-me 5 minutos e eu já vou ter convosco! Olhem pelos meus meninos mas principalmente pelo Gomas por favor! 

-Sim, mas despacha-te Rita Alexandra senão vem cá o menino reclamar contigo!

-5 minutos daqueles que passam a correr não daqueles do banho prometo! Vai lá que eu não quero que ele fique sozinho! E aproveita para lhe dares de comer senão ele fica rabugento!

-Eu sou um excelente tio e ele já lanchou! E fui! –  Saiu do quarto e eu fiquei sozinha. Fiz a cama e vesti a minha camisola do Benfica, onde nas costas tinha: 89, André Gomes. E fui até ao carro onde estava a prenda de Natal que o André tinha dado ao David. Trouxe-a, juntamente com as chuteiras que lhe tinha oferecido e entreguei-lhe que rapidamente vestiu com ajuda do tio antes de começar o jogo, e enquanto estavam a aquecer eu fui comer qualquer coisa, o que fez com que só soubesse o 11 inicial já quando o jogo estava prestes a começar.


Como é que ele era tão... Maravilhoso e encantador? Tinha conseguido pôr o sofrimento de lado e esforçar-se pela equipa. Fazia parte do 11 inicial e estava tão feliz, era bom ver o meu Benfica a lutar por um troféu daquele calibre, e num jogo assim, o André jogar. 
O jogo começou e aquele frio, aquela neve não me agradava, em nada, era propicio a qualquer lesão, a qualquer toque mais forte, ou uma escorregadela que os podia lesionar, e eu não aguentava ver o André assim. Mas a meio da primeira parte, o meu medo foi tornado real. Um jogador da equipa adversária, teve uma entrada infeliz sobre o André e eu senti-me gelar. 


Mas como é que tinham feito aquilo? Porquê? Não tive reação possível, ele era forte mas eu não o podia perder, nunca tinha conhecido a vida sem ele ao meu lado e não o queria nem iria perder. Senti-me impotente e fraca. Ele estava assim, por minha causa.


Cada instante que passava que ele não se levantava, eu sentia mais uma faca no peito, mais um sentimento mais forte de culpa. Era um dos piores sentimentos que tinha vivido na minha vida, senão o pior.
Abracei-me ao Simão e chorei. Não me consegui conter, não consegui disfarçar em frente ao David, era mais forte que eu. O Simão bem que me tentava acalmar mas era impossível, o David tentava o mesmo mas eu não conseguia ficar bem, tinha de lhe dizer o quanto o amava, o quanto o queria do meu lado, o quanto queria que fossemos uma família e fossemos felizes e nunca mais, iria desistir dele!
Quando ele saiu ao intervalo para entrar o Enzo, senti que a minha decisão era sem dúvida a mais certa.


Ele estava a chorar, como nunca o tinha visto na vida. Esteve no chão bastante tempo, o que me fazia querer que era bastante grave, e não o iria perder. 

-David, Simão, a minha decisão está tomada, vou voltar para o Seixal, agora mesmo! 

-Mãmã, o Gomas tá lá longe e a pima toma conta dele, pa imos te com ele temos de i de avião!

-Mas mais logo o André vai voltar e vai para casa e nós vamos estar á espera dele. Agora fica aqui que eu vou preparar alguma coisa para comermos pelo caminho! 

-Rita, espera pelo final do jogo e acalma-te conduzires nesse estado não é bom para ninguém. 

-Vou arrumar as minhas roupas e preparar o jantar para comermos e arrumar as coisas, avisar os meus pais e depois vamos e ninguém me vai fazer mudar de ideias!

-Shim mãmã, que-lo vota pa lá! Bigada! –  Deu-me um beijinho e um abraço. 
Desliguei completamente do jogo, não queria saber do resultado nem do que acontecia, o meu coração estava total e completamente entregue ao André. Arrumei tudo o que era meu em tempo recorde, preparei umas sandes e alguma comida para comermos na viagem e fui avisar os meus pais ao café da minha decisão. Estava decidida e nada nem ninguém, me iria fazer voltar atrás, sentia-me horrível, tudo o que lhe estava a acontecer era por minha causa e ele não merecia. Os meus pais ficaram felizes por mim e apoiaram-me, despediram-se do David e agradeceram o apoio do Simão. Consegui estar a postos a tempo, já no final do jogo e consegui ver o lance “de salvação do Benfica”. O grande corte do Melgarejo. 
Coloquei tudo no carro com ajuda do Simão, não consegui despedir-me dos meus sogros, mais tarde explicaria tudo. Despedi-me do Simão, o David ficou todo feliz, ia voltar para o Seixal, para junto dos amigos e eu, embora com o carro cheio e o coração destroçado, seguia para a terra onde viu o meu melhor amigo tornar-se meu namorado. O David jantou pelo caminho e eu preferi não comer, não conseguia, enquanto o meu estomâgo estivesse ás voltas. Liguei á minha prima e avisei-a que voltaria para o Seixal e ela não podia ficar mais feliz, voltariamos a ser uma família, os 51
Chegamos ao Seixal pouco passava das 23h, estacionei o carro num local longe de casa, para nenhum dos três (André e Salvio) verem o carro e só depois me verem. Queria surpreendê-los ao máximo. O David já dormia e eu decidi pegar nele, deixar tudo o que tinha no carro e só no dia seguinte me preocupar em levar tudo para casa. Foi bom passear na minha rua, onde tinha passado todos os dias nos últimos dois anos, o ar que se vivia bem junto ao rio, aquela rua que era de pescadores e quase todos se conheciam, onde apesar de pobre, eu era feliz. E respirava-se a cada canto, o Benfica, porque ter o Caixa Futebol Campus tão próximo, era impossível não sentirmos esse ambiente. 
Peguei no menino e abri aquela velha porta da entrada do prédio, era verde e a fechadura era daquelas antigas, em que se tinha de dar duas voltas e empurrar para dentro para conseguirmos abrir, era até daquelas pequenas coisas que sentia saudades. Subi, a custo até ao segundo andar daquele prédio sem fazer barulho, mas a pôr a chave na fechadura para entrar em casa, impossível era não fazer barulho, parecia que se estava a montar a terceira guerra mundial enquanto abria a porta de casa. Mas com a felicidade e ansiedade que eu sentia de viver de perto, de sentir próximo de mim o André, tudo me parecia maravilhoso, até o facto de levar o meu filho a dormir ao colo, e tentar abrir a porta de minha casa e não fazer barulho. 
Abri a luz da entrada e respirei novamente aquele perfume habitual daquela casa, era o cheiro da Ana, mas também o cheiro do André, eram os perfumes dos dois que se vivia naquela casa, mas também um perfume diferente, o Salvio já lá tinha passado e isso ninguém me podia desmentir. Pousei o David no sofá e despi-o, vesti-lhe um pijama que tinha ficado no quarto onde dormiamos e vesti uma camisola do André que estava no meu guarda-roupa, era o pijama que mais gostava. Ainda tinha o seu perfume, o seu cheiro, que tanto ansiava sentir próximo de mim.
Deitei-me no sofá junto ao David e queria ficar acordada até ao André chegar, mas não consegui e acabei por adormecer, agarradinha naquele sofá curtinho ao David, a fazer um esforço para ele não cair. Queria esperar que o André chegasse para o surpreender e me deitar ao seu lado, mas adormeci...
Só acordei quando “o” perfume entrou naquela casa, foi impossível não acordar, não sabia que horas eram nem queria saber, queria era deitar-me ao lado dele e matar saudades. Esperei que ele fosse para o quarto e peguei no David e fui-me deitar ao seu lado. Quando lá cheguei com o David ao colo, ao nosso quarto, o André já dormia. Estava cansado e não consegui chegar a tempo de lhe dar um beijo de boas noites. Deitei o David ao lado do André e eu do lado do David, mas precisava de tocar no André sentir que era real, e não era um sonho, por isso coloquei a minha mão sobre o seu peito e dei-lhe um leve toque com os meus lábios nos seus lábios e disse:

 -Amo-te pápá Gomas! – Depois fui-me deitar ao lado do David e pousei a minha mão sobre o seu peito, fazia-me sentir segura e adormeci com um sorriso nos lábios, sentia-me feliz e novamente, estranhamente confesso, em família. O dia seguinte seria longo, demasiado longo, mas esperava que ninguém acordasse durante a noite, o dia 15 de Fevereiro, dia do nosso 2ºmês de aniversário era de surpresas e não queria estragá-las de forma nenhuma! 



Como será que reagirá André? 
Será que vai aceitar Rita e David de volta? Como correrá o dia segunte? 

3 comentários:

  1. Olá :)
    Tantas inseguranças , tantas duvidas mas no fim foi a decisão acertada. A Ritinha só está bem ao pé do André e com o David.
    Ai aquelas coisas fofos , o menino é um fofo a forma como ele e o André se tratam é tao especial.
    Bem eu adorei , é grandito o capitulo mas está lindo e com muito sentimento.
    Sei que o André vai reagir bem , ai dele se não reagir XD
    Outra vez juntos é o que se quer
    Próximo please :D
    Beijo , * Rita

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  2. Olá...adorei!
    Até q enfim q a Rita toma uma decisão...esta moça é uma indecisa...vai lá vai minha nossa :D
    Amo a maneira de falar do David Simão...e é ternurento ver o André e o David.
    O capitulo é grandito...mas está top5 :)
    Espero q o André reaga bem...afinal se ele ainda ama a Rita...vai perdoar ;)
    Próximo sff :*

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  3. Quando voltas a publicar?bjs

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