sábado, 7 de dezembro de 2013

Capítulo 31: “O que táx a faze em cima da mãmã?”


(André)

Ainda não me tinha habituado a dormir sozinho confesso, passei anos assim mas passei durante mês e meio a dormir ao lado do David e parece que ainda hoje o sinto perto de mim. E sentir aquela mão a tocar-me era estranha, conhecia muito bem aquele toque há precisamente 19 anos, era da minha... Namorada. Não, não podia ser. Era um sonho! Até que senti um pontapé na minha barriga, o David é super-irrequieto a dormir, mas aquele pontapé não era um sonho, dói-me a barriga e os sonhos não são tão realistas. Quis tornar consciência da realidade, afastei aquele pequenino pé e confirmava-se, era o David que estava ali. Mas quando eu tinha adormecido ele não estava ali e não podia ter sido a Ana a trazê-lo, ela veio comigo no avião e embora eu não saiba as horas tenho a certeza que não teve tempo de ir buscá-lo e deitá-lo ao meu lado. Peguei na mão que estava sobre o meu corpo e coloquei a minha sobre ela e pude sentir que não era um sonho. Abri os olhos.
Era a Rita e o David. Sorri, eles estavam ali ao pé de mim e não precisava de nada mais. Dei um pequeno toque ao David e um beijinho na testa. Aqueles caracoliquinhos divertidos tinham-lhe pregado uma partida, estava mesmo um no meio da sua testa, eu afastei-o e dei um beijo. Sussurrei:

-Bom dia filhote! – Disse ainda com a voz rouca. Ele coçou o olho e abriu-o embora devagarinho e sorriu.

-Pápá Gomas. – Disse apertando os braços ao meu pescoço. –Táx bem? Ontem tavax no chão a choa, eu vi! A mãmã também choou, mas não che magoou como tu!

-Fiz um dói-dói mas estou bem, logo tenho de ir ao médico, mas já só doi um bocadinho. – Sorri, na realidade doi-a bastante mas não lhe ia dizer para não o deixar preocupado. – A mãmã chorou preocupada... Comigo?

-Chim. Ela dixe depoix de te ve a choa que quia vota paqui! Queles que a acode e pegunte?

-Não, deixa a mãmã descansar. Depois ela acorda – Tocaram á campainha. – Vou abrir a porta mas preciso que fiques aqui a toma conta da mãmã mas não faças barulho, deixa-a dormir, eu já volto! Não a deixes sair do quarto!

-Tá bem! – Fui até á porta e era a Ana.

-Bom dia! –Disse a minha “priminha”– Como estás? – Perguntou.

-Estou a recuperar, ontem foi bem pior. Obrigado – Confessei. – Vieste por algum motivo em especial Ana? – Perguntei direto.

-Vim buscar o David, para passar o dia comigo... E com o Eduardo.. – Respondeu, bem esta não contava. O David não gostou do Salvio e estava reticente em deixá-lo ir, ia com a prima e eu não sou o pai, mas sou em parte responsável por ele.

-Não sei se será boa ideia... – Disse e não me deixaram acabar a frase.

-A Ana sabe o que faz e o Salvio é boa pessoa, confio neles e se for preciso estamos aqui em casa. – Aquela voz... Era da Rita. Tinha saido do quarto e trazia ao seu colo o menino.

-Deixa chó i busca os binquedos! – Disse o Dádá.
Acomodei-a no sofá da sala e fui preparar algo para o nosso pequeno-almoço, para mim, para o David e para a Rita. Depois do menino tomar banho e vestir-se, tomou o pequeno-almoço que tinha preparado e despediu-se de mim e da mãe e foi entretido com ela. Fiquei sozinho em casa com a Rita. Já tinhamos tomado o pequeno-almoço e arrumavamos a cozinha, durante a refeição não trocamos uma palavra. Até que decidi arriscar:

-Rita. – Ela olhou-me e pela primeira vez naquele dia trocamos olhares.

-André. – Olhou para mim e eu vi o arrependimento no seu olhar. Não sabia o que dizer. – Desculpa-me. – Baixou o rosto.

-Anda cá, pequenina. – Estiquei os meus braços para ela me poder abraçar. Ela levantou-se e obedeceu-me. Senti-me reconfortado, sentia-me feliz como nunca naquele mês e meio, senti-me genuinamente feliz e bem, arriscava-me a dizer completo. –Podes chorar se quiseres, vai-te fazer bem deitares cá para fora todos os teus sentimentos e quando estiveres pronta falas. E se te custar menos fala comigo enquanto teu melhor amigo e não enquanto teu namorado. – Ela abraçou-me mais fortemente e não me respondeu. As suas mãos estavam nas minhas costas e as minhas nas dela. Peguei-lhe ao colo e levei-a até ao quarto. Sentei-me na cama e encostei as minhas costas ao móvel e estiquei as minhas pernas, ela aconchegou-se ao meu peito e chorou, chorou. Era um choro que me deixava aflito, queria poder ajudá-la mas sentia que se abrisse a boca, ela ficaria pior. Chorou bastante até se acalmar, até parar com os soluços das lágrimas. Não lhe disse nada, sabia que iria piorar a situação e ela acalmar-se-ia apenas a deitar cá para chora tudo o que sentia.
-André. – Olhei para ela, mas ela não teve coragem para me olhar também. – Nem sei por onde começar, as palavras são tão poucas e o que tenho para te dizer é tanto. Tu és o meu melhor amigo e eu vou contar-te a história do meu namorado, talvez assim seja mais fácil para mim. – Sorri, talvez fosse mesmo mais fácil para ela e para mim. –Eu conheço o André há dezanove anos e somos melhores amigos desde sempre, ele é o meu melhor amigo como tu, tem o mesmo nome e tudo devias conhecê-lo! – Sorrimos. Era incrível a forma como ela lidava com a vida. – Mas depois de eu ser mãe, ele veio para Lisboa lutar por uma carreira no futebol no Benfica, e afastamo-nos. Demasiado tempo na verdade. E ouve um dia que ele apareceu cá em casa por causa da minha prima e foi nesse dia do reencontro que vi que os meus sentimentos tinham mudado, mas ainda não sabia ao certo para o quê. Demos o primeiro beijo e apesar de ter sabido a pouco trouxe-me tantos sentimentos e dúvidas para a minha cabeça! Ele despertou em mim sentimentos mais... De mulher entendes? – Sorri. – Comecei a reparar no seu porte físico, na sua beleza, no seu charme, na sua barba que me picava mas derretia. Os sentimentos foram evoluindo e tornando claros na minha cabeça, o que o meu coração sabia desde cedo. Não, desde criança, na realidade nunca tinha pensado apaixonar-me por ele, mas desde que o revi. Desde o primeiro olhar, amor que foi construído com o tempo e atitudes. Eu pedi um tempo e espaço para pensar no que senti, e um dia ás três da manhã fui ter com ele e declarei-me. Foi a primeira vez que fiz amor com ele e senti-me completa a fazê-lo como nunca senti das outras vezes. No dia a seguir começamos a namorar e eu fiquei nas nuvens. Foi um dos dias mais felizes da minha vida quando começamos a namorar e a noite anterior foi inesquecível. Mas como a vida não é como queremos, fui despedida. E uns dias depois eu tomei a decisão de voltar para o norte. Ao inicio era só uma questão temporária, ia lutar pela custódia do David, mas arranjei emprego e decidi ficar por lá. Quantas vezes pensei em voltar e estar ao teu lado. – Pela primeira vez falava em mim enquanto namorado e não enquanto melhor amigo. Era um discurso direto. – E quando te vi no chão, a chorar, magoado, eu soube que não te queria, nem ia perder. O medo que eu tive de te perder, de me sentir responsável por isso mesmo, fez-me ter a certeza que queria voltar. Posso estar longe da minha família, mas tenho-te a ti, á Ana e ao David. Sei que enquanto não arranjar emprego, vocês me ajudam com o menino. Porque sei que é junto a vocês mas precisamente de ti que eu e o David queremos estar. Compreendo que já não querias ser meu namorado... – Não a deixei terminar a frase e coloquei um dedo sobre os seus lábios e olhamo-nos. Não queria deixá-la terminar e quando ela abria a boca para responder, eu calei-a. Beijei-a como se precisasse daquele beijo para sobreviver. Foi um beijo calmo, com luxuria, com saudade, deixamos demonstrar o mais puro dos sentimentos que nutríamos um pelo outro. Separamos os nossos lábios e ficamos frente a frente, a milímetros, toquei com o meu nariz no seu e os nossos olhares estavam próximos, “chocavam”.

-Não te quero perder por nada pequenina. Não voltes a dizer uma coisa dessas por favor! – Pedi com suplica. – Tu quiseste optar, tu sentiste que tinhas de o fazer. O David é o teu filho e no teu lugar eu teria feito o mesmo. – Vi um sorriso formar-se na cara. – Mas esqueceste-te de algo importante Rita, eu também sou teu amigo, o teu melhor amigo. Tu não abandonaste o teu namorado, abandonaste um amigo. Estarei a teu lado em qualquer altura, porque te amo. A ti e ao David. Amo-vos como se fossem minha família de sangue e vocês são a minha família, é convosco que vou criar o meu futuro e estou a criar o presente. Não te vou mentir e dizer que não me magoaste nem desiludiste, porque o fizeste. – Ela ia desviar o olhar mas eu coloquei as minhas mãos sobre a sua bochecha e fi-la olhar para mim. – Mas tu estás arrependida, eu sei, conheço-te, vi no teu olhar e sinto. Sei que não o farás e agora estás aqui do meu lado, na condição não só de amiga, como de namorada e me prometeste que não sairias de junto de mim. E eu amo-te, a ti e ao Dádá, amo-o como filho, como se fosse meu, eu ajudo a educá-lo, a mimá-lo, irei ajudar-te, se tu me deixares. Mas eu sinto que não é isso, penso que já te provei que quero ser um padrasto e estar presente na vida dele e na tua, sinto que não é isso que te incomoda, por favor fala comigo. – Ela virou o olhar e olhou para o horizonte, depois olhou para mim e sorriu. Confessou-me:

-Tenho medo. – Fez-se um silêncio que vinha com perguntas, ás quais não tinha resposta.

-Medo. Mas medo de quê? – Podia ser medo de tanta coisa. Medo do que sentia ou não por mim, medo do que eu sentia por ela. Tantos medos.

-Medo do que sinto por ti. É tão forte André, é tão... Bom e incrível. Mas é isso mesmo que me assusta. – Disse baixando o olhar. – Cada vez preciso mais de ti para mim, para conseguir superar o meu dia a dia, para sobreviver, para ser feliz. Não me chega só o David, eu preciso de ti! Eu amo-te André. E tenho medo de estar totalmente dependente de ti e que um dia a relação acabe e eu não saiba o que fazer e que o David pergunte por ti e eu não saiba o que dizer, não saiba dizer que tu já não és mais o pápá Gomas. Não sei se aguentaria isso. – Uma lágrima caiu-lhe pelo rosto. – Tenho medo que a nossa relação de amizade acabe, que o nosso amor morra, tenho medo que o meu futuro não seja do teu lado. – Nunca tinha ouvido uma dedicação de amor tão pura, tão genuína mas tão improvisada. Foi dita com o coração e não havia pessoa que me conhecesse melhor no mundo que ela. Deitei também duas lágrimas teimosas na minha face.

-Sinto o mesmo Rita. Eu nunca amei como te amo a ti e assusta-me, mas farei tudo para nunca vos perder, para vos ter sempre ao meu lado. Nunca vos irei perder, porque as relações de amor podem acabar mas as amizades, verdadeiras como a nossa não. Será sempre minha amiga e farei tudo para seres minha mulher e mãe dos meus filhos. Eu quero cuidar do David até aos meus últimos dias. Vocês neste momento são a minha vida! – Nós os dois já só choravamos a falar ou a ouvir o que se dizia.
Quando a Rita não consegue traduzir em palavras o que sente, beija-me  ou abraça-me, consoante o que achar mais adequado para a altura e para o sentimento que não sabia traduzir. E agora fê-lo, beijou-me. Foi um beijo como o anterior, calmo mas sentido. Traduziu o que ela não conseguia dizer por palavras e eu não sabia expressar. Aconcheguei-a nos meus braços depois daquele beijo e deixamo-nos ficar ali durante bastante tempo, eu respirava Rita, sentia o seu cheiro, o seu perfume, o seu toque, a sua presença, o seu sorriso e lembrava-me de todas as memórias que tinha da nossa vida, desde a infância até aos dias de hoje.

-André. – Hesitou. Tinha vergonha de perguntar alguma coisa, já a conhecia. – Tu queres casar? – Falar do futuro era andar um passo para a frente com ela. Sorri, de felicidade, ela queria construir O NOSSO plano para o futuro.

-Quero! Casar-me contigo e só contigo, mas primeiro quero namorar muito.

-Eu quero construir o nosso plano para o futuro. Preciso de saber o que queres também, preciso disso.

-Para mim não faz sentido casar-me pelo registo civil, se é para casar que seja pela igreja. Mas estou disposto a mudar conforme for o teu desejo porque não é a minha vida, é a nossa!

-Eu... Estou de acordo contigo. Sabes eu também tinha planos para o futuro com o Miguel, antes e depois do David, mas tudo morreu e era esse o medo que tinha contigo. – Confessou-me. – Mas contigo, eu sinto que é diferente. Está nos teus planos ser pai... Quer dizer depois do David é claro.

-Sim. Depois do David tenciono ser pai. Sempre pensei em dois/três, mas depois do David tive a certeza que quero três. O David tomará conta dos irmãos, um menino e uma menina. E tu? Está nos teus planos para o nosso futuro?

-Sim. Quero ter mais dois, sei que dão trabalho e se for como o David muito iremos sofrer! – Sorrimos. – Mas sei que tenho o melhor pai para eles! E o David toma conta da menina e do outro menino também! Quer dizer não escolhemos, mas eu gostava que assim fosse.. E nomes? Eu gosto de Mariana e Rafael, mas de tantos outros nomes.

Simão, não! Já tenho um cunhado com esse nome! E é o segundo nome do nosso pequeno, e David já há um por isso estão fora de questão. Também gosto de Catarina, mas sempre disse que se algum dia tivesse uma menina o primeiro nome seria Ana, até para honrar a minha prima e homenagear a minha avó. Meninos, só não quero ter um “André Júnior” cá por casa, isso não gosto...

-Ficaria uma confusão de nomes, estou de acordo! Mas Júnior no nome também não é grande ideia. Gostas de Ana Beatriz? – Perguntei. – Podíamos sempre tratá-la por Bia, e depois quando nos chateássemos usávamos os dois nomes.

-Gosto muito! – Disse ela sorrindo.

-Para menino: Rafael...

-Filipe! – Disse ela. – É o teu segundo nome e honrar-te-ia! – Sorri.

Falamos dos nossos planos para o futuro, sempre juntos, falamos dos nossos medos, dos nossos pensamentos e sentimentos. Foi bom, sentia que ela estava disposta a tentar o nosso futuro. Não demos pelo tempo passar, e já era tempo de almoço. Pensei em preparar algo rápido mas como a fome estava “negra”, precisava de repor forças. Por isso preparei empadão de peixe, a Rita adora e eu sinto-me sempre bem servido. A Ritinha recomendou-me ir ao médico, para ver o grau da sua lesão. Dei-lhe ouvidos e fomos até ao Caixa Futebol Campus, fi-la acompanhar-me. E era o que se suspeitava. Uma paragem entre duas e quatro semanas. Iria afastar-me da equipa e dos planos do treinador, era difícil mais tarde regressar mas iria lutar, desta vez tinha-a a ela e ao David do meu lado. Regressamos para casa e começamos a namorar, a apreciar a boa companhia um do outro. Não sabiamos a que horas regressava a Ana, o Salvio e o menino, mas ainda deviam demorar. Pelo menos assim esperava.
Entre brincadeira, peguei-a ao colo e levei-a até ao quarto, ela queria, tinha sido ela a sugerir-me irmos até lá, gostava que ela se tivesse “solto” para mim, gostava daquele lado mais provocatório dela, o seu lado mais á vontade enquanto namorada. Deitei-a e ela escondeu-se sobre os lençóis e eu fiz-lhe companhia, a temperatura não era agradável, era um mês de Fevereiro e era o mais certo para nenhum dos dois ficar doente. Começamo-nos a beijar enquanto nos despíamos, sempre apaixonados e cientes do que fazíamos, tínhamos morto saudades das nossas ternuras e carinhos, mas também daqueles momentos mais “quentes”, iríamos matar saudades dos nossos corpos unidos. Estávamos já em fase de preliminares, apenas em roupa interior, o corpo dela estava sobre o colchão e eu conseguia admirá-lo, o quanto eu gostava dele, daquele corpo, daquela menina com corpo de mulher. Do quanto eu a queria só para mim, e por um momento ser egoísta e tê-la só para mim. Estava a beijar-lhe o pescoço, preparando a minha última investida. Tirar-lhe o soutien enquanto lhe beijava o rosto, ela tinha as mãos agarradas ás minhas costas. Mas ouvimos a porta a abrir atrás de nós e uma voz reguila dizer:

-Dê! – Exclamou admirado. – O que táx a faze em cima da mãmã? – Tinha sido totalmente apanhado desprevinido. Não contava e nem tinha pensado que tal aconteceria, em qualquer pensamento. Não tinha sido por falta de preocupação e prevenção, até tinha encostado a porta do quarto para evitar isso mesmo, mas aquele menino tem o dom de surpreender.
A Ana e o Salvio apareceram enquanto o menino olhava para nós e dizia o meu nome. Não sabiam o que fazer e muito menos o que pensar, eles sabiam o que iamos fazer mas não esperavam ver-nos assim. A Ana pediu “desculpa” com os lábios e eu continuava sem reação. Senti as mãos da Rita me empurrar para o lado dela e assim fiquei, sentei-me e deixei a manta cair, sendo visível o meu corpo enquanto a Rita tapava o peito.

-Vochês tão chem roupa? – Perguntou admirado. E nós não tinhamos mesmo resposta para ele. Como explicava a uma criança de dois anos que a mãe e o namorado iam fazer amor?

Como será que se safam desta “trapalhada”?
     Será que é desta que conseguem ser felizes? E iram realizar os seus planos para o futuro?

2 comentários:

  1. Meninas pfv mais, sim?! E o Simão, que senso de oportunidade, sei não... E quero dizer que a vossa fic já faz parte da minha vida!!! <3

    Besos!! :*

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