(Ana)
Não
podíamos ter tido mais pontaria, o tempo em que chegamos á sala foi perfeito, a
Rita e o André estavam a dar o primeiro beijo, fiquei muito feliz, não esperava
que fosse tão breve mas sei que eles foram feitos um para o outro, e a Rita merece
aquela felicidade, merece-o. O Rodrigo sem se aperceber do beijo pergunta:
-Cê já ‘tá pronto? – Rodrigo Machado não podias ter ficado calado mais
um bocadinho, eles estavam tão bem e tu tinhas de interromper! Eles afastam-se,
a minha prima fica muito envergonhada, e o André com o sorriso mais feliz que
vi naquele rosto respondeu:
-Sim, estava só a despedir-me da minha
pequenina. – Aproximou-se da Rita e sussurrou-lhe algo que não consegui
ouvir. O Rodrigo abraçou-me, colocou as mãos ao fundo das minhas costas e eu
coloquei a mão sobre o seu peito e sussurra-me:
-Também podíamos ter uma despedida
como a deles. – Solta aquele
sorriso encantador, muito característico e eu não resisti em também sorrir, mas
respondo-lhe em forma de segredo:
-Tem calminha contigo meu menino. – Vi
que ele ficou um pouco desiludido com a minha resposta então dou-lhe dois
beijos bem no canto dos meus lábios, que o fez estremecer, assim como a mim.
Como tinha as mãos sobre o seu peito faço-o afastar-se de mim e sorrimos, não
sei o que me deu mas aquela proximidade que o fim-de-semana nos deu fez-me ver
que talvez uma relação entre nós resultasse mas os medos e os receios de me
voltar a envolver com um jogador fazem-me recear o futuro. Sei que a história
com o Roberto pode não se repetir mas tenho medo, o Rodrigo ainda tem muito a
provar-me.
O
Rodrigo e o André já estavam a ir embora quando a Rita chama o André e ele
dá-lhe um beijo, nem eu nem o Rodrigo esperávamos mas enfim o amor muda as
pessoas. Depois a minha prima pede para tirar uma fotografia e o Rodrigo tira,
era a hora finalmente da despedida, confesso que foi difícil mas amanhã ia
estar com ele, lembrar-me da conversa que ficamos de ter amanhã deixava-me
ansiosa, não sei bem o que lhe dizer, secalhar a história não é essa, sei
exatamente o que lhe dizer mas não quero dizer, ele não tem culpa que eu não
consiga entregar-me de alma e coração a uma relação e que tenha dúvidas e
receios em relação aos jogadores de futebol, não tenho medo do futuro, nem
pensar mas tenho receio que ele seja obrigado a mudar-se para outro clube e eu
fique novamente só, tenho a minha vida no meu país, na minha cidade, não vou
deixar a minha prima e o meu primito David, não vou deixar os meus amigos, o
meu emprego, a minha família. Mal a Rita fecha a porta desliza até ao fim e eu
peço desculpa pelo que fiz, afinal interrompi o momento deles:
-Desculpa ter interrompido, não tinha intenção. Mas já vi que as coisas
andam muito avançadas. – Fiquei com a ligeira sensação que ela não me ouviu, mas mesmo assim
perdida naquele sorriso parvo, mesmo de quem estava apaixonada responde-me:
-Não vou dizer que não
interrompeste, é claro que interrompeste mas não faz mal eu não queria
prolongar o momento muito mais, quero levar tudo com calma. – Levantou-se e enfrentou-me e não
consegui aguentar soltar o meu sorriso, eu estava feliz e saber que o André
deixou a minha prima nas nuvens, algo que eu não via desde que ela se mudou
para junto de mim, ela merece toda a felicidade e todo o amor e ele é o homem
que ela precisa. Mas perdida em pensamentos ela diz. - Mas já
vi que não fui a única a ter um momento destes. Conta lá o que se passou… – Virei costas e fui até ao meu
quarto, claro que a minha vontade era contar-lhe tudo o que se passou mas acho
que é cedo, assim não crio expectativas e depois nada se realiza, prefiro
apenas eu saber e assim posso pensar por mim mesma, assim depois custava-me
mais a esquecer, e além disso estou com a cabeça demasiado quente para falar
sobre o que aconteceu, talvez noutro dia ou noutra altura eu aceite e acabe por
contar o que se passou, afinal os beijos tiveram algum significado para nós,
mas não quero apressar nada, quero que tudo aconteça naturalmente, quero
descobrir tudo por mim mesma e até lá quem saiba consiga esquecer e ultrapassar
estes meus medos.
Cheguei ao quarto, vesti o pijama,
liguei a música bem baixinha e começo a dançar, era uma maneira de libertar a
minha alma, a minha emoção, podia não desabafar sobre o beijo com a minha prima
mas a dançar ficava tudo mais claro na minha cabeça, a escolha da música não
demorou muito: Little Mix – Wings. Fico a dança-la e a repetir a música até não
aguentar mais com o meu corpo: já me doía a alma, os pés já estavam exaustos,
as minhas pernas doíam, não foi só descarregar energias ou ganhar músculos, era
a melhor maneira para mim de esclarecer tudo o que pairava na minha cabeça.
Desligo a música, vou até á casa de banho, dispo-me e tomo um banho refrescante,
visto-me e vou-me deitar outra vez, acabo por adormecer rapidamente, mas não
sem antes olhar para o telemóvel, ia colocar o despertador quando vejo uma
mensagem não lida e uma chamada não atendida, não tinha energia para lê-la,
coloco o despertador e adormeço.
Foi uma noite tranquila, os meus
sonhos transmitiram exatamente o que o meu coração me dizia, sonhei com o
primeiro beijo que dei com o Rodrigo, com os sentimentos que ele causou e que
apesar de não serem a primeira vez que os sinto são diferentes do que senti,
não consigo entregar-me de todo, e isto não é culpa dele, mas sim da sua
profissão. Mas no sonho, eu não tenho medos, não tenho receios, era uma praia
interminável e eu e o Rodrigo a vivermos o nosso momento, a assumir-mos o que
sentimos, e estamos assim deliciados á algum tempo quando aparece o David,
vindo não descobri bem de onde e abraça-nos e no meio de nós diz:
-Goto muito de ti madinha e
padinho. – Mas assim que o menino diz isto eu acordo com o despertador,
eram horas de ir trabalhar, fá-lo com todo o gosto mas depois de gastar as
energias que gastei ontem com a dança e a probabilidade de rever o Rodrigo
tornam tudo mais complicado. Sento-me na cama e digo para mim mesma:
-Mas que sonho tão estranho! – Realmente
era estranho… Até nos sonhos o Rodrigo me segue com tudo o que provoca em mim,
os sentimentos, as emoções, e o facto de o David não ser o mesmo quando está
com o Rodrigo deixa-me um pouco triste, e até nos sonhos isto me acontece. Vejo
que a chamada era do Roberto, o meu ex-namorado, não retribui a chamada mas
leio a mensagem em voz alta:
“De: Roberto
Olá Ana :) Liguei-te e não atendeste por isso mandei-te uma mensagem,
estou cheio de saudades tuas, quando puder vou aí ao Seixal rever-te ou então
vens cá a Saragoça ver-me, tenho tantas coisas para te contar! Finalmente
assumi á Elena o que sinto ela sente o mesmo somos oficialmente namorados!
Beijinhos te adoro guapa. “
Quando leio aquela mensagem senti
quase um balde de água fria a cair sobre mim, eu sabia que o seu coração agora
pertencia á Elena mas magoa-me saber que namoram, muda tudo. Já não o amor, mas
vivemos tanto e foi tão difícil a nossa separação e logo agora que estou feliz
com o Rodrigo tinha de saber isto, sabia que aquela mensagem ia mudar tanto na
minha vida, na vida que comecei a construir com o Rodrigo. E mesmo com mágoa
respondo a mensagem:
“De: Ana
Olá Roberto :) Desculpa não ter atendido mas estava longe do telemóvel e
ontem vieram jantar comigo e com a Rita e o David o Rodrigo e o André, desculpa
não ter atendido. Sim vem cá tu que a última vez fui eu que fui aí! Muitos
parabéns, quando puderes liga-me que não tenho muito saldo no telemóvel para me
contares tudo, as maiores felicidades tu mereces”
Vou até a casa de banho, faço a
minha higiene pessoal, vou até ao quarto e visto-me, preparo algo rápido para o
meu pequeno-almoço e como o David e a Rita já não estavam em casa não me
despedi deles, fui até ao meu carro e depois em direção ao meu trabalho, hoje
vou fazer tudo para evitar ver o Rodrigo, não sei o que fazer nem como lidar
com ele.
Porque será que Ana terá ficado
assim depois da mensagem de Roberto?
Será que ela consegue fugir dele
durante o dia? Como irá ele reagir?